Correio Braziliense, n. 20621, 07/11/2019. Brasil, p. 5

13,5 milhões de ultrapobres
Cristiane Noberto



O número de brasileiros vivendo na extrema pobreza chegou a nada menos que 13,5 milhões de pessoas, que vivem com menos de R$ 145,00 por mês. O recorde histórico, referente a 2018, consta da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado ontem. A maioria dessas pessoas em total vulnerabilidade social são pretas e pardas (75%), de idade até 59 anos (96%) e não possuem parte do ensino fundamental (60%).

O estudo indica que o número de pobres, pessoas que vivem com menos de R$ 420,00 mensais, segundo o Banco Mundial, diminuiu em aproximadamente 1 milhão de pessoas. Porém, a parcela de miseráveis aumentou para 4,5 milhões em quatro anos, desde 2014, início da recessão econômica. Segundo o SIS, o rendimento médio dessas famílias no final da pirâmide social foi de R$ 69 por mês, número muito abaixo do critério do Banco Mundial para a definição de extrema pobreza — aproximadamente R$ 145/dia.

Segundo Marcelo Neri, diretor do FGV Social (departamento da Fundação Getúlio Vargas), a razão dessa disparidade na extrema pobreza é que essas pessoas não têm acesso a postos de trabalho formais, além da queda na base de distribuição do Bolsa Família e o aumento do desemprego nos últimos anos.

“Entre 2015 e 2018, 6 milhões de pessoas passaram a viver em famílias com renda zero. A alternativa foi ir para a informalidade, e o Bolsa Família se tornou a base da renda das famílias em uma época onde as pessoas perderam os empregos”, avaliou. Segundo ele, crescendo 2,5% ao ano, o Brasil somente conseguirá o mesmo resultado de cinco anos atrás em 2030.

O SIS ainda revelou que, em 2018, a população brasileira pobre — com rendimento domiciliar per capita inferior a R$ 420 por mês — não tinha infraestrutura básica, como coleta de lixo nas residências (9,7%), abastecimento de água tratada (15,1%) e acesso à rede de esgoto (35,7%).

Para os extremamente pobres, os percentuais eram muito maiores: 21,1% residiam em domicílios sem coleta de lixo, 25,8% não contavam com abastecimento de água por rede, e 56,2% moravam em lares sem esgotamento sanitário. Segundo o IBGE, esses serviços estão diretamente ligados à baixa condição de vida da população que vive em extrema pobreza.

A aproximadamente 20km do Palácio do Planalto, a Vila Santa Luzia, na cidade Estrutural, Maria Francisca Lima dos Santos, 25 anos, está desempregada e há dois meses era catadora de materiais recicláveis junto ao marido. Ganhava R$ 20 por semana para sustentar as duas filhas pequenas e hoje depende do Bolsa Família.