Título: Impotência ainda é tabu
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2005, Ciência & Saúde, p. A12

Mais da metade dos homens esconde da parceira que toma remédio para conseguir ereção

Apesar da revolução que ocorreu no tratamento da impotência masculina na última década, que teve como marca o lançamento de um famoso remédio, há ainda uma grande parcela dos homens que resiste em procurar tratamento ao perceber que não consegue manter uma ereção. Por vergonha, medo ou por considerar o assunto um tabu. Essa dificuldade é comprovada por uma pesquisa inédita realizada no Brasil pelo Instituto Ipsos e coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo.

O que não falta hoje em dia são opções de tratamento. O problema é a falta de diálogo entre os casais que atrapalha na busca por ajuda médica. No estudo, 23% dos entrevistados passaram no último ano por alguma dificuldade sexual, como: não conseguiram manter a ereção, não atingiram o orgasmo, tiveram problemas para satisfazer a parceira, tiveram falta de interesse por sexo, falta de prazer ou ansiedade na cama.

Dos que passaram por essas situações 29% não procuraram nenhum tipo de orientação e 30% não quiseram responder. Apenas 20% conversaram com a parceira, somente 12% foram ao médico e 9% recorreram ao conselho de amigos. O que mostra que o problema de comunicação não é apenas entre os casais e sim também com os médicos.

Dos que já usaram ou usam medicamentos para impotência, 57% disseram que a parceira não sabia do uso do remédio.

- A maioria dos homens encara essa falha se sentindo envergonhados, culpados e relacionam o problema com sua virilidade - analisa Abdo.

Mostrando que a conversa pode dar certo, os homens relataram que quando as mulheres sabem sobre o medicamento 78% incentivam a utilização e apóiam a decisão.

- Muitas vezes, no consultório, a gente pede para o homem trazer a parceira, mas o paciente não quer. Diz que se tiver que ser assim interrompe o tratamento.

Participaram da pesquisa, realizada em novembro de 2004, 588 homens entre 18 e 70 anos, moradores da cidade São Paulo.

A impotência é um mal que atinge 150 milhões de homens em todo o mundo. O urologista Eduardo Bertero chama atenção para o termo usado para denominar o problema.

- É melhor chamar de disfunção sexual por ser menos pejorativo e não atingir tanto a auto-estima masculina - explica.

No Brasil, estima-se que 15 milhões de homens tenham algum grau de impotência e que somente 10% se tratem. A maioria demora de quatro a cinco anos para procurar um médico.

- O homem com disfunção erétil é o sofredor silencioso. Por isso, é importante quebrar as barreiras da comunicação entre os casais e o médico - comenta Bertero.

Um homem tem impotência sexual quando falha sistematicamente por aproximadamente seis meses.

O especialista afirma que a dificuldade de ereção está longe de ser apenas um problema psicológico e que é muito mais comum do que as pessoas imaginam. Quase 50% dos homens com mais de 40 anos passam pelo problema.

Vários fatores podem acarretar em impotência como diabetes, problemas cardíacos, colesterol alto e pressão alta. Além de distúrbios hormonais, depressão, ansiedade, estresse, cirurgia na próstata, efeitos colaterais de alguns remédios, fumo e consumo de bebidas alcoólicas.

- A disfunção erétil não mata mas revela a existência de doenças que podem matar, é como se fosse um marcador. Além disso, o sexo é um dos pilares da vida saudável - ressalta Carmita Abdo.

A especialista coordena também o Projeta Sexualidade (ProSex) da Universidade de São Paulo (USP) uma equipe multidisciplinar, do qual fazem parte desde ginecologistas até assistentes sociais que realizam atendimento, ensino, pesquisa e prevenção dos transtornos da sexualidade.

O ProSex lançou na semana passada a campanha Abra o Jogo, Converse, que vai realizar palestras pelo Brasil, estimulando o diálogo entre os casais sobre impotência, além de divulgar um folheto que será distribuído em consultórios médicos com informações sobre a disfunção erétil, contendo ainda um questionário que o homem pode preencher para saber se tem ou não o problema.