O Estado de S. Paulo, n. 46888, 03/03/2020. Internacional, p. A14

Rússia toma cidade-chave no sul da Ucrânia e amplia ataque a civis


 

O Exército russo conquistou ontem seu primeiro grande alvo estratégico, a cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, e reforçou o cerco à capital Kiev e o porto de Mariupol, no sul do país. No norte, o cerco a Kiev continua, com bombardeios diários, incluindo quatro na madrugada de hoje. Kharkiv, segunda maior cidade do país, também é um alvo A queda de Kherson, onde três jogadores de futsal brasileiros estão retidos (mais informações na página A18), é importante porque o controle da cidade dá aos russos uma plataforma para tomar os portos de Odessa e Mariupol, por onde escoa boa parte da produção de grãos ucraniana. O prefeito de Kherson, Igor Kolykhaev, e um alto funcionário do governo ucraniano confirmaram que Kherson havia caído.

As forças russas cercaram a cidade, disse Kolykhaev, e após dias de intensos combates, as forças ucranianas recuaram em direção à cidade vizinha de Mykolaiv. “Não há exército ucraniano aqui”, disse ele. “A cidade está cercada.” Cerca de dez oficiais russos armados, incluindo o comandante russo, entraram na prefeitura e tinham planos de estabelecer um centro administrativo russo lá. Em um vídeo gravado em Konotop, o prefeito Artem Semenikhin relata aos moradores que recebeu um ultimato: a rendição ou a destruição por bombardeios de artilharia.

“Os russos nos deram um ultimato. Se resistirmos, eles destruirão a cidade. Vamos lutar, porque a artilharia está voltada para nós.” Outro ponto estratégico no sul do país, a cidade portuária de Mariupol, no Mar de Azov, também está cercada por tropas russas. “Não podemos nem tirar os feridos das ruas e dos apartamentos, já que o bombardeio não para”, disse o prefeito Vadym Boichenko.

Cerco. Em Kiev, os mais recentes movimentos de tropas da Rússia, aparentemente, revelam uma tentativa de cerco da capital da Ucrânia, que vive fustigada pelo medo. Imagens de satélite mostram um comboio militar que se estende por 64 quilômetros de comprimento em uma estrada ao norte de Kiev, com registros de várias casas e prédios queimando nas proximidades. “Eles têm ordens para apagar nossa história, apagar nosso país, apagar todos nós”, disse o presidente, Volodmir Zelenski. “O que estamos vendo é a fase 2, que é uma mudança para uma guerra muito mais brutal, sem tato e irrestrita, que levará a muito mais baixas civis e batalhas mais sangrentas”, disse Mathieu Boulègue, especialista em guerra russa na Chatham House, centro de estudos de Londres.

Mortos. No norte do país, paraquedistas russos foram lançados em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, após vários dias de bombardeios que mataram ou feriram dezenas de civis. Ontem, mais 21 pessoas morreram, disseram autoridades locais, acrescentando que a cidade ainda está sob controle ucraniano. Em uma semana de conflito, mais de 350 civis ucranianos foram mortos e 2 mil ficaram feridos, de acordo com o serviço de emergência da Ucrânia. Centenas de prédios – incluindo instalações de transporte, hospitais, escolas e casas – foram destruídas. A Ucrânia afirma que 7 mil soldados russos morreram. Ontem, o Ministério da Defesa da Rússia reconheceu a morte de apenas 500 soldados. / NYT e AP