Título: Violência contra mulher cresce no RJ
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2005, Rio, p. A14

Dado novo é que maior parte das agressões partem de pessoas conhecidas pelas vítimas

Apesar dos avanços no campo social e econômico, há números pouco dignos de serem comemorados na data de hoje. As estatísticas dos crimes contra as mulheres vêm crescendo no Rio, e o agressor, na maior parte dos casos, é alguém conhecido, segundo levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP). Na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro já foram registradas este ano 1.010 ocorrências até a semana passada. No mesmo período do ano passado - quando as nove Deams do Estado somaram 31.609 registros -, o número de ocorrências foi de 932. Em 2003, as Deams registraram 28.731 casos.

De acordo com a presidente do ISP, Ana Paula Miranda, o aumento nos registros é, em parte, reflexo da melhoria nos serviços das Deams.

- Ao oferecermos o serviço, atendemos à demanda e desmontamos o mito de que os agressores são desconhecidos. O risco está próximo. É preciso meios que ajudem a mulher a denunciar - esclarece Ana Paula Miranda.

Dados do ISP revelam que a lesão corporal dolosa (com intenção) é o crime mais praticado contra mulheres. Em 2004, foram 45.860 casos. Em seguida, aparece o atentado violento ao pudor, com 1.268 ocorrências; e o estupro, com 1.182. Nos três casos, o agressor mais frequente é alguém com quem a vítima convive, seja marido, namorado, parente, vizinho ou colega de trabalho.

Dentre as mulheres que sofreram lesão corporal dolosa em 2004, 85,8% foram vítimas de pessoas conhecidas, sendo 53,8% de maridos.

O ISP aponta ainda outros dados alarmantes: 56% das mulheres que sofreram estupro em 2004 também foram vítimas de pessoas conhecidas, sendo 16,4% de parentes. No caso das que sofreram atentado violento ao pudor, o percentual de agressores conhecidos sobe para 67,6%.

- As crianças somam quase 50% das vítimas nos abusos sexuais dessa ordem (atentado ao pudor), que envolve parentesco em 39,4% dos casos, porque, com exceção dos menores de rua, elas não ficam expostas aos desconhecidos - explica Ana Paula Miranda.

O aumento nas estatísticas da violência contra mulher apontam para o fato de que mais vítimas estão denunciando seus agressores.

De acordo com a delegada titular da Deam-Centro, Catarina Elisabete Noble, a maior parte das que registram as agressões na delegacia é de baixo poder aquisitivo:

- Mulheres de alto nível sócio-econômico nos procuram para ter orientação, mas poucas registram as agressões. A maioria resolve diretamente com advogados e psicólogos.

A presidente da Associação Brasileira de Direito de Família, Graça Condé, diz que a vergonha e a dependência econômica são os principais fatores que impedem mulheres de classe-média a alta de registrarem agressões de cônjuges.

- Como são os provedores da família, elas não querem que o pai de seus filhos fiquem marcados. Além disso, muitas não conseguem reunir provas da autoria para registrar a denúncia, porque a agressão ocorre no próprio lar - disse Graça Condé.

O abuso sexual infantil também é outro mal muito escondido nas classes altas, segundo Condé:

- A menina passa por perícia médica e psicológica. Uma vez constatado o estupro, a mãe entra com ação judicial, mas não registra - aponta a advogada.

Muitas mulheres que registram as agressões dos maridos, no entanto, acabam retirando a queixa por não terem como abandonar a casa em que vivem com o agressor.

- Como a punição para os agressores é o pagamento de cestas-básicas, as mulheres de baixa-renda acabam retirando a queixa para não arcar com a despesa - informa a presidente do ISP.