O Estado de S. Paulo, n. 46889, 04/03/2022. Economia & Negócios, p. B6

Saldo da balança comercial fecha fevereiro com superávit

Lorenna Rodrigues
Francisco Carlos de Assis


 

Impulsionadas pelas vendas em alta de grãos, especialmente soja, e ainda sem refletir os eventuais impactos do conflito no Leste Europeu, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 4,049 bilhões em fevereiro. O valor é o maior resultado para o mês desde 2017, mais do que o dobro do registrado no mesmo mês de 2021, quando alcançou US$ 1,836 bilhão.

Tanto exportações quanto importações bateram recorde em fevereiro. As vendas somaram US$ 22,913 bilhões em fevereiro (+32,6%). Já as compras do exterior chegaram a US$ 18,863 bilhões (+22,9%). Depois de um déficit em janeiro, no primeiro bimestre, a balança comercial acumula superávit de US$ 3,835 bilhões. “Houve aumento de preços e volume embarcados em fevereiro, principalmente de bens agropecuários”, disse o subsecretário de Inteligência e Estatística da Secretária de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Herlon Brandão.

Destaque para o crescimento das exportações de soja (+187,5% pela média diária), trigo e centeio (+874%) e café não torrado (+89,7%). Houve aumento no volume de soja exportado porque a safra do grão foi plantada e colhida mais cedo, por questões climáticas.

Conflito. Principal produto importado pelo Brasil, a compra de adubos e fertilizantes, que tem como maior fornecedor a Rússia, caiu 7,1% no mês passado. O recuo, no entanto, ainda não é atribuído à guerra, iniciada pelos russos na semana passada – contratos já estavam fechados e já foram embarcados produtos que ainda estão chegando ao País, pois o transporte da Rússia para o Brasil dura em média 20 dias.

Por isso, Brandão disse que não é esperado um impacto de “curto prazo” na importação de fertilizantes por causa da guerra da Rússia contra a Ucrânia. “Não houve tempo ainda para ter qualquer efeito direto do conflito nas importações brasileiras”, afirmou Brandão. O subsecretário evitou fazer previsões de como o comércio exterior brasileiro será impactado pela guerra.

“Temos de esperar mais um pouco para ver como isso vai se desenrolar”, disse. Brandão ressaltou que o comércio direto com a Rússia e a Ucrânia é relativamente pequeno – foi de US$ 7,7 bilhões em 2021, apenas 1,5% do total. Já o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que os dados comerciais de fevereiro retratam um cenário de “pré-guerra” e não servem como base para projeção de futuro.

Ele ressalta que o volume de toneladas de soja embarcadas deve recuar. Prevendo isso, a maioria das empresas de exportação e importação, segundo Castro, já está renegociando contratos. “Sem o Swift (sistema de comunicação interbancária que sustenta as transações globais), quem vai garantir que o exportador vai receber?”, questiona Castro.