Título: Guerra de tarifas volta a decolar
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2005, Economia & Negócios, p. A17

Varig e Gol anunciam promoções de até 70% para aumentar fatia de mercado. TAM foi a que mais ganhou com quebra da Vasp

A guerra das companhias aéreas alça vôo mais uma vez. A Gol anunciou ontem a redução dos preços de suas passagens em até 56%, a partir de hoje. A Varig contra-atacou baixando suas tarifas em até 70% para viagens durante a Semana Santa.

O anúncio da Gol acontece em meio à percepção de que a companhia não se beneficiou como esperado da saída da Vasp do mercado - a empresa paulista está impedida de realizar vôos regulares desde o fim de janeiro. Segundo o Departamento de Aviação Civil (DAC), a Gol detinha 19,91% de participação no setor em março do ano passado e pulou para 23,66% em fevereiro, menos, no entanto, que os 23,92% de novembro, quando a Vasp ainda operava. A TAM foi a companhia que mais ganhou espaço. Em fevereiro, a empresa do interior paulista detinha 43,24% de participação no mercado, contra 34,61% em março do ano passado.

As promoções também acontecem em um momento de reaquecimento. Segundo dados do DAC divulgados ontem pelo Sindicato Nacional das das Empresas Aeroviárias (Snea), em fevereiro as companhias aéreas registraram um aumento de 12,3% no transporte de passageiros em linhas internacionais em relação ao mesmo mês de 2004. Nos vôos domésticos, o avanço foi de 7,4%.

O resultado embute, além do bom momento da economia, o incremento do turismo no verão. Só o Rio de Janeiro recebeu 540 mil turistas, que geraram receita de US$ 270 milhões.

No acumulado do ano, o incremento no transporte de passageiros em vôos internacionais foi de 15,3% frente ao primeiro bimestre de 2004. Nos vôos nacionais, o aumento no volume de passageiros transportados nesse mesmo período foi de 10,4%.

A queda das tarifas da Gol reduz a passagem da ponte aérea Rio-São Paulo para R$ 112, 35% a menos que o preço cheio. As promoções, entretanto, estão sujeitas a diversas condições, como a compra da passagem pela internet e a viagem fora dos horários de pico.

- Não se trata de promoção. Temos uma metodologia de precificação dinâmica que leva em conta diversas variáveis como demanda, horários e antecedência da compra - explica Tarcísio Gargioni, vice-presidente de marketing da Gol.

O realinhamento de tarifas deve colocar a Gol novamente no mercado de empresa de baixa tarifa. É que, após começar a voar em 2001 com o sistema low cost, low fare (baixo custo, baixa tarifa), altamente competitivo, a Gol foi gradualmente elevando seus preços até ficar bem próxima dos cobrados pelas concorrentes tradicionais. O mercado, no entanto, aguarda com atenção o desdobramento da promoção anunciada. No ano passado, o DAC vetou a venda de bilhetes da Gol a R$ 50, sob a alegação de concorrência predatória.

O passageiro deve ficar atento às regras do realinhamento de tarifas da Gol. Uma delas é que o preço reduzido é válido apenas para as passagens compradas pela internet e se restringe a determinados horários.

Para aumentar sua participação de mercado, a Gol anunciou que conta com a aquisição, no fim do mês, de mais três aeronaves, aumentando a sua frota para 31 aviões.

- Tivemos uma oferta menor de assentos, já que o número de aeronaves em operação era menor. Com a chegada de novos aviões, a oferta deve aumentar - disse Gargioni.

Já na Varig os descontos de até 70% nos preços valem apenas para os bilhetes comprados para embarques nos dias 25 e 26 deste mês. Pela promoção, a passagem Rio-Recife pode ser comprada por R$ 397. O preço cheio desse mesmo trecho é de R$ 1.323. A Varig fixou em R$ 199 o preço do bilhete por trecho da ponte aérea Rio-São Paulo.

Nos mesmos moldes da redução da Gol, a promoção da Varig só vale para bilhetes comprados via internet.

A Varig também não ganhou a fatia esperada com o colapso da Vasp. No mês passado, a companhia ficou com 31,14% do mercado, contra 31,33% em março de 2004. Além disso, a companhia busca aumentar o número de passageiros em meio a um processo para superar o peso de uma dívida que gira em torno dos R$ 10 bilhões. Para complicar a situação, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deu prazo de 90 dias para que Varig e TAM encerrem o compartilhamento de vôos, responsável direto pelo lucro operacional obtido nos últimos meses.