O Estado de S. Paulo, n. 46890, 05/03/2022. Internacional, p. A13

Invasão russa avança e população em pânico tenta fugir de Kiev


 

O caos tomou conta ontem da estação central de Kiev, quando milhares de pessoas, principalmente mulheres e crianças, correram para pegar trens, temendo a aproximação das forças russas. Como pano de fundo da fuga, várias explosões eram ouvidas na cidade. Nas ruas da capital ucraniana, destroços de mísseis de cruzeiro se espalhavam pelo asfalto.

Os militares da Ucrânia disseram que o principal objetivo do Exército russo agora é cercar a capital, embora a maioria dos avanços da Rússia venha ocorrendo no sul do país. Uma coluna de tanques e outros veículos militares, com cerca de 64 quilômetros de comprimento, permanece parada em uma estrada ao norte de Kiev.

A maioria dos combates ocorre em pequenas cidades nos arredores da capital, que vem sendo atingida aparentemente por foguetes de longo alcance.

Militares ucranianos disseram ontem que continuam travando uma batalha pelo controle do pequeno aeroporto de Hostomel, 35 quilômetros a noroeste da cidade. Oficiais ucranianos dizem ter recapturado o local, embora a alegação não possa ser verificada de forma independente.

Combates. Além de os moradores de Kiev terem lotado a estação de trem, esperando viajar para o oeste da Ucrânia, um novo fluxo de refugiados começou a chegar à capital vindo do noroeste, em um sinal preocupante que aumenta a gravidade da crise humanitária.

Trens com mulheres e crianças chegaram ontem a Kiev vindos de Irpin. Um condutor disse que os militares russos estão combatendo forças ucranianas nos trilhos da ferrovia naquela direção, sugerindo algum progresso do Exército russo no cerco da capital.

Estradas e linhas ferroviárias permanecem abertas para o sudoeste de Kiev, mas os trens, que partem amontoados, não conseguem levar todos que tentam deixar a cidade. Uma multidão permaneceu na plataforma quando o trem para Lviv – perto da fronteira com a Polônia – partiu.

“Não é o primeiro dia que tentamos”, disse Oksana Gorbula, moradora de Kiev que estava tentando viajar com sua irmã e duas sobrinhas. “Olhe para essa multidão. Nós nunca vamos nos dar bem, você pode ver isso claramente.” Ela disse que o grupo, provavelmente, desistiria de tentar escapar da cidade e se mudaria para a segurança de alguma estação de metrô.

Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, com 1,4 milhão de habitantes, os moradores desesperados para fugir da artilharia e bombardeios russos também lotavam a estação ferroviária, até mesmo sem saber para onde iriam. O prefeito Ihor Terekhov disse que o Exército russo está “intencionalmente tentando eliminar o povo ucraniano” ao atacar áreas civis.

Fuga. A ONG Human Rights Watch disse que o Exército russo teria utilizado em Kharkiv bombas de fragmentação, que não fazem distinção entre alvos militares e civis, o que poderia constituir um crime de guerra. Mais de 1,2 milhão de pessoas já deixaram a Ucrânia desde o início da ofensiva russa, segundo a ONU.

Mais da metade desses refugiados foi para a Polônia, onde as grandes cidades criaram “centros de absorção”, em razão da situação de emergência que o país vive com a chegada de um fluxo tão grande de pessoas. / NYT, EFE e AP