Correio Braziliense, n. 20694, 19/01/2020. Política, p. 3

"Casamento de 4 ou 8 anos", diz Bolsonaro



O presidente Jair Bolsonaro voltou a utilizar uma metáfora com relacionamentos para falar de política e, desta vez, sinalizou a vontade de permanecer na chefia do Palácio do Planalto, pelo menos, até 2026. Ontem, em Brasília, durante evento do partido que ele quer tirar do papel, o Aliança pelo Brasil, ele afirmou que a Presidência “não é uma lua de mel”. “É um casamento de quatro ou oito anos. Ou, quem sabe, por mais tempo, lá na frente”, afirmou, sem esclarecer exatamente o que queria dizer com “mais tempo”.

Bolsonaro afirmou ainda que, neste “casamento”, os “fins serão o bem-estar deste povo”. “Eu já passei dos 60 (anos). A gente começa a não pensar de maneira diferente. A pensar com os pés do chão. O que nós queremos deixar para quem vem depois? O que eu quero deixar para a minha filha Laura?”, afirmou a uma plateia formada por simpatizantes e colaboradores da legenda, que ainda está em fase de formação.

Apesar disso, momentos depois, ele entrou em contradição ao comentar a respeito de uma eventual reeleição e afirmou que ninguém deve governar pensando em se reeleger. Para o mandatário brasileiro, “quem se preocupa com reeleição está fadado ao fracasso, começa a ser bonzinho com todo mundo”.

Durante o evento, Bolsonaro abordou diversos assuntos. Em determinado momento, fez referências indiretas à relação com seu antigo partido, o PSL. “Como disse, é pesado. Decepções, ingratidões, gente que se revela depois que assume o poder, gente que pede cargo e responde: você já teve um cargo acima do nosso nome, o seu mandato”, observou. “Mas nem isso satisfez uma parte daqueles que chegaram conosco para ocupar a Câmara e o Senado”, acrescentou.

O presidente ainda disse que é “escravo da lei” e que sancionou a Lei Orçamentária Anual de 2020, com o Fundo Eleitoral de R$ 2 bilhões, para não cometer crime de responsabilidade. “Eu tenho que cumprir a lei. Posso ser enquadrado no crime de responsabilidade. Somos escravos da lei. Algumas coisas sanciono contra minha vontade. Outras eu veto contra minha vontade também. O Brasil não é eu. São os outros Poderes também”, disse.

Criação do Aliança

Os criadores do Aliança pelo Brasil acreditam que vão reunir as assinaturas necessárias a favor da legenda já no início de fevereiro. São necessários 492 mil apoiamentos distribuídos proporcionalmente pelo Brasil para que o registro possa ser feito ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“A meta era a do Distrito Federal, cumprir em fevereiro, daqui a duas semanas. Acho que até fevereiro a gente resolve o Brasil. Vamos trabalhar para isso. Receber os apoiamentos, eu garanto. Se tudo vai estar processado, vai depender”, comentou o advogado Luís Felipe Belmonte, segundo vice-presidente e um dos principais articuladores da agremiação.

Belmonte também anunciou que os comandos regionais do Aliança, quando criados, serão submetidos a uma “peneira” pela cúpula. Simpatizantes têm reivindicado nas redes sociais o controle do partido, sem qualquer respaldo dos líderes. “O presidente já deixou claro que não tem lugar garantido pra ninguém. Tudo será analisado na hora certa. E tudo vai passar na peneira. Teve gente que foi no lançamento do partido, tirou foto e saiu de lá dizendo que ele é o responsável pelo partido no local. Isso é conversa furada”, afirmou.

Belmonte criticou o Fundo Eleitoral de R$ 2 bilhões sancionado pelo presidente — embora tenha dito compreender as razões do chefe do Executivo para a sanção. “Dentro do limite que o próprio TSE encaminhou e Congresso aprovou, ele correria risco de questionamentos severos. Ele está cumprindo a lei. Mas ele e o partido trabalharemos (sic) pela extinção do Fundão”, comentou.