O Estado de S. Paulo, n. 46891, 06/03/2020. Economia & Negócios, p. B7

Empreendedorismo é diretamente afetado pelo racismo

Shagaly Ferreira


 

A maioria dos negócios liderados por empreendedoras negras no Estado de São Paulo têm curta duração. De acordo com a pesquisa de 2020 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada pelo SebraeSP e Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), os registros de mulheres pretas e pardas que empreendem somam 1,7 milhões.

Dessas, segundo o levantamento, o maior número de empreendedoras, 1,3 milhão está no estágio inicial de seus negócios, isto é, têm até 3 anos e meio no mercado. Somente 400 mil empreendedoras já estão estabelecidas, com mais de 3 anos e meio de atividades. O total de pessoas com atividades empreendedoras em São Paulo, no ano de 2020, passou dos 9 milhões.

Considerando o estágio do ciclo de vida do empreendimento, foram contabilizados ao todo 6,5 milhões de empreendedores iniciais e 3,1 milhões de empreendedores estabelecidos no Estado. Em números porcentuais, as mulheres negras empreendedoras representaram 20% dos empreendedores iniciais, 12,9% dos empreendedores estabelecidos e 18,1% dos empreendedores totais no Estado. De acordo com o IBGE/Pnad de 2019, as mulheres negras (pretas e pardas) representam pouco mais de 20% da população de São Paulo.

Racismo Estrutural. Para a criadora da Feira Preta e presidente da PretaHub, Adriana Barbosa, o fato de muitas mulheres negras empreenderem por necessidade faz que parte delas inicie os negócios sem o apoio educacional necessário para gerir uma empresa de forma sustentável e a longo prazo. Além disso, há um racismo sistêmico e estrutural que afeta o cotidiano dessas empreendedoras em comparação com as brancas. Isso seria “um agravante para a democratização do acesso ao crédito”, explica.

Na avaliação da executiva, existem ainda muitas crenças que promovem uma leitura errada da capacidade de mulheres negras em empreender e gerir seus negócios. Adriana alerta que três estratégias precisam ser adotadas para mudar esse quadro.

A primeira delas é reconhecer o empreendedorismo negro no Brasil, pois quando se busca a figura de um empreendedor em plataformas de pesquisa, as pessoas brancas aparecem com mais destaque. “(É preciso também) ter uma estratégia que permita quebrarmos o telhado de vidro do micro. Somos maioria empreendedora, mas apenas na categoria do MEI. A terceira sugestão é projetarmos estratégicas sistêmicas e estruturantes para combater as desigualdades e trazer, sim, as experiências das ações afirmativas para o ecossistema do empreendedorismo no Brasil”, diz a especialista. / S.F.