O Estado de S. Paulo, n. 46894, 09/03/2022. Metrópole, p. A21

Nos dois primeiros meses do ano, Brasil registra 29% mais raios

José Maria Tomazela


 

O Brasil registrou 29% mais raios nos dois primeiros meses de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo levantamento de um grupo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entre janeiro e fevereiro, foram 17 milhões de descargas elétricas, ante 13,2 milhões no primeiro bimestre do ano anterior. Segundo especialistas, as mudanças climáticas favorecem eventos extremos – como as chuvas que arrasaram áreas de Bahia, Minas e a Região Serrana do Rio – e também a ocorrência de raios.

O Brasil é líder mundial de registros de raios. Além dos riscos de acidentes e mortes, a maior quantidade de descargas pode aumentar problemas de interrupção de fornecimento de energia elétrica e de incêndios. O número de mortes por raios no País foi de 26 no primeiro bimestre de 2021 e 18 nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.

Os cinco Estados com mais raios foram Amazonas (2.608.255), Mato Grosso (2.030.670), Pará (1.823.955), Minas (1.539.276) e Tocantins (1.004.022). Em 14 Estados, entre eles São Paulo e Minas, houve ocorrências em todos os dias de janeiro e fevereiro.

Segundo Osmar Pinto Junior, especialista em raios e coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Inpe, o fenômeno La Niña influencia a frequência das tempestades no Brasil, mas não pode ser apontado como causa da alta este ano, pois esteve presente também em 2021. "Quando a gente olha a estatística de forma isolada, fica difícil estabelecer a causa. No entanto, quando analisamos o contexto dos eventos relacionados ao clima, fica mais evidente que tem relação com as mudanças climáticas."

"As enchentes no sul da Bahia, por exemplo, foram as maiores dos últimos 40 ou 50 anos e totalmente atípicas, pois não costumam acontecer naquela região. Também tivemos períodos de ventos intensos na Região Centro-oeste, nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, igualmente atípicos. Foram de tal força que causaram a queda de 30 torres de retransmissão de energia", afirma ele.