Título: Brasil é paraíso de invasores
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 18/03/2005, País, p. A3

O Brasil é considerado um paraíso para hackers. Em vez de coqueiros, praia e sol, é uma legislação defasada - de 1988, muito antes de a maioria dos brasileiros ouvir falar em internet - que atrai os criminosos e justifica o resultado de uma pesquisa divulgada no fim do ano passado pela Polícia Federal: oito em cada 10 hackers ativos no mundo vivem na ''terra do samba e do pandeiro''.

Pela lei brasileira, um hacker não pode ser preso só porque invadiu um site ou espalhou algum vírus, a não ser que essas ações tenham comprovadamente, resultado num crime.

Foi o que aconteceu a um estudante de 19 anos de Mato Grosso do Sul que desviou milhões de reais de correntistas brasileiros e estrangeiros. Em 2002, Guilherme Amorim Oliveira Alves, de seu laptop, violou sites de bancos nacionais e administradoras de cartões de crédito. Ano passado, foi punido com seis anos e quatro meses de prisão, na primeira condenação da Justiça brasileira a alguém que lesou pessoas e bancos pela internet.

Guilherme já havia sido preso e solto duas vezes, beneficiado por um habeas-corpus. A primeira vez foi em Campo Grande, suspeito de aplicar golpe de US$ 12 mil num banco nacional. Em seu notebook, havia dados de 3.500 clientes de cartões de crédito. Em 2003, ele foi preso em Petrópolis, acusado de clonar sites de instituições bancárias do Brasil, da Coréia, do Peru e dos Estados Unidos e aplicar golpes.

Em outubro do ano passado, a PF prendeu outra quadrilha que desviou R$ 240 milhões de bancos do país pela internet. Foram 80 prisões no Pará, Tocantins, Maranhão e Ceará. O bando encomendou programas de computador para capturar senhas e desviar dinheiro.

Em fevereiro deste ano, foram presos outros quatro estelionatários cibernéticos que roubaram R$ 10 milhões. A quadrilha invadiu anos, mais de 200 contas bancárias no Rio, São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás e Ceará. O grupo subornava funcionários dos bancos para acessar senhas.