Título: Hacker de banco cai na rede da polícia
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 18/03/2005, País, p. A3

PF prende na Barra da Tijuca líder de quadrilha interestadual que lucrou R$ 50 milhões, prejudicando 1 milhão de pessoas

Acusado de ser líder de uma quadrilha que lucrou mais de R$ 50 milhões nos últimos dois anos com fraudes bancárias pela internet, Valdir Paulo de Almeida foi preso às 20h30 de quarta-feira em um flat do condomínio Barramares, na Barra da Tijuca.

O paulistano, de 42 anos, é acusado de liderar 17 estelionatários que cometiam crimes eletrônicos, usando contas de correntistas de grandes bancos do país, sobretudo do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, nos quais 60% das vítimas tinham conta. Segundo a Polícia Federal, mais de 1 milhão de pessoas podem ter sido lesadas.

Valdir é o terceiro membro da quadrilha a ser preso, após três meses de buscas. Segundo o delegado-chefe da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio de Florianópolis, Raimundo Barbosa, Valdir tinha prisão preventiva expedida em Florianópolis, como resultado da Operação Net-Livre, desdobramento da Cavalo de Tróia, iniciada em 2003.

Os outros 15 integrantes do bando estão foragidos, provavelmente em São Paulo, onde fica o centro de operações do grupo. Policiais, funcionários dos bancos e públicos, além de laranjas participam da quadrilha. O esquema pode contar com a participação de menores. O delegado acredita que o restante do bando será preso em breve.

Os fraudadores recebiam dinheiro de pessoas interessadas em quitar débitos por menor valor. Os principais clientes tinham dívidas em empresas financeiras ou no Serviço de Proteção ao Crédito e pagavam metade ou dois terços das contas aos estelionatários. Os criminosos iam a cybercafés, para despistar a polícia, e usavam contas de pessoas que tinham seus dados roubados pela internet para fazer os pagamentos.

A polícia encontrou centenas de boletos a serem pagos. Segundo o delegado, as pessoas que usavam o serviço também podem ser indiciadas. Foram encontrados ainda CDs com números de contas e senhas, documentos, dois celulares e dois aparelhos Nextel.

O novo golpe era mais lucrativo do que o que já vinha sendo executado - transferência de dinheiro de conta corrente hackeada para outra, de um laranja, com o posterior saque do valor em um caixa eletrônico

- No novo golpe ele podia pagar de uma vez R$ 2 mil em boleto pela internet, enquanto, no golpe anterior, ele tinha um limite de saque que geralmente não passava de R$ 400 e era rapidamente rastreado.

Valdir teria dois aviões, 20 veículos e vários imóveis. Até agora só foram localizados quatro carros: um Audi, uma BMW, um Alfa-Romeo e um Fox, da Volkswagen. O delegado considera a quadrilha de Valdir a mais perigosa formada por hackers, já descoberta no país.

- Operavam tráfico de drogas, roubo, receptação de carga, roubo de carros. E o final é a lavagem de dinheiro.

Valdir foi levado ontem de avião para Florianópolis, onde ficará preso. Ele deve responder por estelionato, formação de quadrilha e violação de segredo bancário.