Correio Braziliense, n.20569, 16/09/2019. Mundo. p.13

Clima de dúvidas e ameaças


Ânimos acirrados e dúvidas sobre o que, de fato, ocorreu no ataque a instalações da grande petroleira saudita Aramco, no sábado, ganham proporções globais. Autoridades americanas acreditam que a missão não partiu do Iêmen, onde estão os rebeldes houthis, que reivindicam a investida. Irã e Iraque, apontados como principais suspeitos, negam ser protagonistas do ataque, em meio a ameaças de retaliações bélicas feitas por grupos ultraconservadores islâmicos. Riad, por sua vez, avisa que o reino “quer e pode” responder à “agressão terrorista”.

Há ainda a suspeita de que, em vez de drones, tenham sido usados mísseis. O alcance e a precisão do bombardeio sugerem o uso de artefatos mais complexos e que o ataque tenha partido da direção oeste noroeste, não do sul, a partir do Iêmen, segundo especialistas americanos. Existe também a possibilidade que o estrago seja maior do que o divulgado inicialmente — análise de imagens de satélite indicam que 15 prédios podem ter sido destruídos.

Ontem, o secretário de Estado Mike Pompeo voltou a culpar o Irã pelo ocorrido. “Em meio a todos os pedidos de redução na escala (de tensão), o Irã lançou um ataque sem precedentes ao suprimento de energia do mundo”, declarou. No sábado, Pompeo escreveu, no Twitter, que Teerã “faz de conta” que está empenhado na diplomacia.

Menos direto, Donald Trump se pronunciou sobre o ataque na mesma rede social. “O suprimento de petróleo da Arábia Saudita foi atacado. Há razões para acreditar que conhecemos o culpado (...). Estamos esperando notícias do Reino sobre quem eles acreditam que foi a causa desse ataque e sob quais termos procederíamos!”, tuitou.

Segundo o porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores, Abbas Musavi, os comentários americanos têm o objetivo “de prejudicar a reputação de um país para criar um marco para futuras ações contra o Irã”. “Acusações e comentários tão estéreis e cegos são incompreensíveis e insensatos”, afirmou, em nota. Musavi ironizou a política de “pressão máxima” dos Estados Unidos em relação ao Irã que, segundo ele, “aparentemente se transformou em mentira máxima, devido a seu fracasso”.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, também investiu contra Washington. “Em vez de culparem a si mesmos — e admitirem que sua presença na região está criando problemas —, os americanos culpam os países da região, ou o povo do Iêmen.” Alguns jornais noticiaram que havia a possibilidade de os projéteis terem saído de uma base do Irã no Iraque, já que milícias e facções paramilitares próximas ao Irã atuam no país. O Iraque negou qualquer tipo de relação com os incêndios.

“Guerra total”

Amirali Hajizadeh, comandante aeroespacial dos Guardiães da Revolução, a força de elite da República Islâmica, advertiu que há o risco de um confronto. As tensões atuais, “com forças que estão frente a frente no terreno”, podem deflagrar um conflito armado, declarou, segundo a agência Tasnim. “O Irã está preparado para uma guerra total”.

O príncipe saudita, Mohamed bin Salman, cujo país é o grande rival regional do Irã, garantiu que Riad “quer e pode” responder à “agressão terrorista”. Para James Dorsey, especialista em Oriente Médio na S. Rajaratnam School, em Cingapura, as chances de represálias diretas são mínimas. “Os sauditas não querem um conflito aberto com o Irã (...). Querem que outros lutem em seu lugar, mas os outros são reticentes”, afirmou à agência France-Presse de Notícias (AFP).

O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, mostrou-se preocupado com os desdobramentos do ataque. Em nota, pediu que “todas as partes exerçam máxima contenção, evitando qualquer escalada nas tensões” e que cumpram a Lei Humanitária Internacional.

Frase

"Há razões para acreditar que conhecemos o culpado (...) Estamos esperando notícias do Reino sobre quem eles acreditam que foi a causa desse ataque e sob quais termos procederíamos!”

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, pelo Twitter