Título: Depois do fiasco na Câmara, PT tenta revanche na Assembléia
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: Jornal do Brasil, 19/02/2005, Nacional, p. A12

Numa espécie de revanche da sucessão na Câmara, quando Severino Cavalcanti (PP-PE) derrotou os candidatos oficial e avulso do PT e ganhou a presidência da Casa, os petistas entraram numa disputa encarniçada para derrotar o candidato do governador Geraldo Alckmin à presidência da Assembléia. De olho nas eleições do ano que vem, querem impedir a vitória do deputado estadual Edson Aparecido (PSDB) na eleição marcada para o dia 15 de março. Hoje, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, desembarca em São Paulo e discute a sucessão no Legislativo com o líder do PT na Casa, Cândido Vaccarezza.

"O governo federal está entrando com tudo na disputa aqui. A ordem é tentar evitar a vitória de Aparecido. E cada um usa as armas que tem", afirmou um integrante da base aliada do governador. "Se preciso, vamos oferecer cargos", confirmou um deputado petista.

Os tucanos, por sua vez, também costuram acordos para permanecer no comando da Casa, na mão do PSDB há dez anos. "O governo paulista não está fazendo por menos. Já começou a oferecer cargos e até uma secretaria para o bloco dos dez", afirmou um parlamentar. Ele se referia ao bloco independente formado pelos 10 deputados do PSB, do PV e do PDT.

Para garantir a eleição de Aparecido, o PSDB, de acordo com essa fonte, estaria oferecendo para os deputados do bloco dos dez e para os do PMDB cargos em empresas de economia mista, como a Sabesp.

SUSPENSE

Cortejado tanto pelo PT quanto pelo PSDB, o líder de um dos partidos do bloco dos dez, o deputado Geraldo Vinholi (PDT), observou que a disputa na Assembléia está apenas começando e faz suspense sobre para qual lado da balança seu grupo está pendendo. "Somos um bloco independente, e não necessariamente de oposição ao governador Alckmin", disse. "Podemos apoiar o Aparecido, mas também caminhar com o PT."

O líder do PT na Assembléia nega interferência do governo federal. "Isso é uma absoluta mentira", disse Vaccarezza. "O governo federal está completamente fora da discussão." O petista também nega que vá encontrar Dirceu hoje na capital paulista para discutir o tema.

O secretário estadual da Casa Civil, Arnaldo Madeira, afirmou que o governo paulista não faz "toma-lá-dá-cá". Principal interlocutor de Alckmin no Legislativo, Madeira disse que não acredita que a União entrará na disputa em São Paulo. "Eles (governo federal) já cometeram tantos equívocos nos últimos meses que não acredito que vão cometer outro."

Ele também não acredita em "efeito Severino". "Aqui o processo é outro. O que aconteceu em Brasília é resultado de um processo de dois anos de relacionamento equivocado do governo Lula com o Parlamento."