Correio Braziliense, n. 21364, 12/09/2021. Economia, p. 10

Sem ajuda do exterior



Diante da piora das perspectivas econômicas em meio às instabilidades políticas e às ameaças de crise energética, especialistas alertam que o cenário externo não vai mais ajudar o país crescer em 2022, porque não está mais favorável como no início do ano. Eles lembram que a variante Delta da pandemia da covid-19 já está fazendo estragos lá fora, inclusive, nos Estados Unidos, e, portanto, a desaceleração global também ajuda a frear o processo de retomada.

"A China, que é responsável pela produção de metade do aço no mundo, está desacelerando devido à variante Delta e vemos o impacto disso na queda do preço do minério de ferro, uma das principais commodities exportadas pelo Brasil. Logo, as exportações não devem continuar crescendo como antes e não ajudarão a impulsionar a atividade econômica", alerta o professor Simão Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP).

"Bolsonaro não terá bons números da economia para apresentar em 2022, que será um ano marcado por muita incerteza e muita volatilidade. A gente também vai colher os frutos da política monetária mais restritiva e tem o risco de um cenário internacional mais desafiador, com os governos reduzindo os estímulos monetários e fiscais, o que não ajudará a economia doméstica como antes', destaca a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.

Na avaliação do economista Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria, um dado positivo na conjuntura econômica é a vacinação em massa, que está ajudando na retomada recente das atividades do setor de serviços, inclusive, o comércio. Contudo, ele reconhece que, diante das incertezas políticas do momento, especialmente sobre as chances cada vez mais reduzidas de avanços nas reformas, os investimentos, que são um importante motor para o crescimento sustentável, não devem crescer nos próximos meses. "O investidor ainda está com o pé atrás em relação ao ambiente corrente e com a perspectiva de polarização nas eleições. Esse cenário afugenta os investidores de todos os lados", alerta Jensen. Ele ressalta que, no caso de racionamento, dólar pode ir para R$ 6. (RH)