Correio Braziliense, n. 20698, 23/01/2020. Mundo, p. 13

Começa a fase de acusações



Derrotados nas tentativas de anexar mais documentos e ouvir novas testemunhas no processo de impeachment de Donald Trump, os democratas começaram, ontem, a apresentar as acusações contra o presidente dos Estados Unidos. O deputado Adam Schiff, titular da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes, subiu à tribuna do Senado para argumentar que o chefe da Casa Branca deve ser destituído do cargo devido às acusações de abuso de poder e de obstrução do Congresso. “O presidente mostrou que acha estar acima da lei”, disse Schiff, que liderou a investigação contra Trump.

A sessão que antecedeu o início das alegações, porém, indicou que a condenação está praticamente descartada. Os republicanos, que ocupam 53 das 100 cadeiras no Senado, exibiram forte coesão e bloquearam as 11 tentativas dos democratas de convocarem autoridades como testemunhas e incluírem documentos no processo.

À frente da defesa de Trump, o advogado Pat Cipollone afirmou, no Senado, que um julgamento partidário equivale a “roubar uma eleição” e considerou que bloquear o testemunho de funcionários do alto escalão da Casa Branca é um “ato de patriotismo”. “Eles querem tirar o presidente Trump das urnas”, declarou, em referência às próximas eleições.

Em Davos, prestes a embarcar de volta a Washington, Trump alfinetou os democratas, afirmando que preferia um julgamento prolongado, com participação de testemunhas, mas que isso representaria um “risco para a segurança nacional”.

Trump disse ainda que gostaria de participar do processo de impeachment, mas que foi dissuadido pelos seus defensores. “Eu adoraria ir. De alguma forma, eu adoraria sentar na primeira fileira e olhar para os rostos corruptos (dos congressistas)”, disse Trump, assinalando: “Embora eu ache que (os advogados) teriam um problema com isso.”

Denúncia

Liderados por Adam Schiff, os sete membros da Câmara dos Representantes responsáveis pela acusação vão ter três sessões de oito horas para expôr seus argumentos contra Trump. “O presidente solicitou interferência estrangeira em nossas eleições, abusando do poder de seu mandato para buscar ajuda no exterior e melhorar suas chances de reeleição”, disse Schiff. Ele afirmou que, ao ser flagrado, o líder republicano “utilizou os poderes a seu alcance para obstruir a investigação”.

A denúncia apresentada por Schiff insiste que o chefe da Casa Branca abusou de seu poder quando tentou pressionar a Ucrânia para interferir nas eleições deste ano a seu favor, sugerindo que seu homólogo Volodimir Zelenski investigasse os negócios do filho de Joe Biden, que poderia ser seu rival democrata na corrida presidencial.

A defesa terá um tempo equivalente, também em três blocos. Depois, há 16 horas para a formulação de perguntas. O controle férreo demonstrado pelo líder da maioria, Mitch McConnell, mantendo a bancada republicana unida, é um sinal de como o julgamento deve se desenrolar, chegando provavelmente à absolvição de Trump, de olho no segundo mandato.

O julgamento se desenrola quatro meses depois do surgimento do escândalo ucraniano e a 10 meses das eleições presidenciais. Trump é o terceiro presidente na história do país a ser julgado num processo de impeachment, depois de Andrew Johnson, em 1868, e de Bill Clinton, em 1999.