Correio Braziliense, n. 21367, 15/09/2021. Política, p. 2

CPI mira "garantias" dadas pela FIB Bank

Tainá Andrade
Fabio Grecchi


A CPI da Covid requisitará à Procuradoria-Geral da República (PGR) que determine uma investigação de todos os contratos com o governo federal em que a FIB Bank figure como instituição garantidora. Encaminhará, ainda, todas as informações obtidas pelo colegiado ao Tribunal de Contas da União (TCU) a fim de se realizar uma auditoria em todos os negócios firmados.

A decisão foi aprovada, ontem, durante o depoimento à comissão do advogado e empresário Marcos Tolentino, suspeito de ser um sócio oculto da FIB Bank — que, apesar do nome, não é um banco nem uma seguradora. A empresa foi responsável por dar à Precisa Medicamentos garantias para o fechamento do contrato da vacina indiana Covaxin com o Ministério da Saúde.

Como a FIB Bank também assegurou outros negócios celebrados por órgãos públicos, os senadores aprovaram um requerimento pedindo informações ao Ministério da Economia, à Casa Civil, à Advocacia-Geral da União (AGU) e a outros ministérios sobre cartas de fiança emitidas pela instituição. Os parlamentares querem saber como a empresa avalizou tais contratos e como os negócios foram concretizados.

A CPI identificou que tais acordos fechados com o governo federal somam aproximadamente R$ 600 milhões. "Isso demonstra um conluio nunca visto na história da República. O Ricardo Barros (líder do governo na Câmara) está presente em todas as negociatas e sempre muito próximo do depoente", provocou o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

De novo, o silêncio
Tolentino seguiu o roteiro dos depoentes que obtêm habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF): se manteve praticamente todo o inquérito em silêncio. Respondeu poucas perguntas e tentou enfatizar que não tinha nenhuma participação na sociedade das empresas investigadas pela CPI – FIB Bank, MB Guassu e Pico do Juazeiro.

Mas, na fala inicial, ele confirmou ter relações profissionais com Ricardo Benetti, acionista do FIB Bank. E sobre o deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse que se trata de um "conhecido há muitos anos". "Mantenho com ele vínculo de respeito e amizade, nada mais do que isso", salientou.

Os senadores apresentaram um arsenal de documentos e informações que relacionam o empresário a Barros. Tolentino foi questionado sobre o endereço de uma das acionistas do FIB, a Pico do Juazeiro, ser o mesmo da sua emissora de televisão, a Rede Brasil, e da Benetti Associados — que também está na mira da CPI.

Durante o depoimento, a comissão trouxe à tona o nome da empresa Brasil Space, responsável, de acordo com Calheiros, por fazer transferências para a FIB Bank. Segundo a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), a firma, que é da mãe de Tolentino, recebeu R$ 1,9 milhão do FIB Bank. Além disso, as contas bancárias das duas empresas estão na mesma agência em São Paulo. A senadora mostrou que Tolentino e parentes próximos teriam 32 empresas abertas em seus nomes.

O colegiado apresentou, ainda, duas situações consideradas inusitadas: uma, de que Tolentino teria seis CPF (dois ativos e quatro cancelados pela Receita Federal), conforme mostrou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP); e que no depoimento de Barros à CPI, o empresário esteve presente "em solidariedade" — como ele próprio definiu.

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