Título: Campos: novela que se arrasta
Autor: Daniela Dariano
Fonte: Jornal do Brasil, 20/03/2005, País, p. A8

O processo eleitoral em Campos dos Goytacazes ainda não terminou. O último capítulo da novela em que se transformou a disputa entre o prefeito eleito Carlos Alberto Campista (PDT) e Geraldo Pudim (PMDB) é visto pelo próprio presidente do TRE do Rio, Marcus Faver, como uma medida ''procrastinatória'' dos advogados de Campista para arrastar a trama que, até agora, beneficia o pedetista.

Sob uma chuva de denúncias de uso da máquina - do estado, por Pudim, e do município, por Campista, que sucede Arnaldo Viana, também do PDT - na campanha, os dois continuam a troca de farpas.

Entre os fatos que depõem contra os pedetistas está a apreensão pelo Ministério Público de documentos que comprovariam captação irregular de votos, através de distribuição de benefícios para a população, por Viana e Campista.

Os acusados pediram perícia da papelada, alegando ser falsa. A juíza de Campos, Denise Appolinária, nomeou, então, um perito, que cobrou R$ 30 mil. Os dois recorreram, dizendo que a Polícia Federal poderia fazer isso de graça. Após dois meses, a PF respondeu não ter peritos para o trabalho.

- Sem dúvida, foi uma medida que, embora legal, teve intuito procrastinatório - disse Faver, sobre o pedido de perícia.

Um recurso foi encaminhado ao TRE, que julgou o pedido improcedente, porque se tratava de uma tentativa de provar que os documentos eram falsos, portanto, os pedetistas teriam que arcar com o ônus da prova. O tribunal devolveu todo o processo para a juíza de Campos.

O caso é ainda mais complicado se consideradas as seis ações, ao todo, envolvendo os mesmos personagens. Há processos também contra Pudim, Anthony Garotinho e Rosinha Matheus. Faver está, no entanto, otimista. Prevê que os processos sejam julgados em 15 dias, simultaneamente. Caso Campista e Pudim sejam cassados, haverá nova eleição 30 dias depois, sem que eles participem. Todos os partidos poderão concorrer.

Só que o julgamento definitivo está longe do fim, já que, depois da sentença de Denise Appolinária, ainda cabem recursos para o TRE e para o TSE.

Campista evita comentários. Segundo o secretário de Comunicação Social da prefeitura, Roberto Barbosa, a intenção é ''não exercer pressão sobre a Justiça''. Barbosa acusa o PMDB de boca-de-urna e distribuição ''desordenada'' de benefícios do estado.

- Se houver Justiça, vai punir Pudim - afirma, insinuando que os documentos apreendidos, incriminando Campista, possam ter sido plantados por Pudim, no período em que Arnaldo Viana foi afastado e o peemedebista ''ficou cerca de oito horas'' na prefeitura.

Pudim ri da insinuação e lembra que a ação em questão foi interposta pelo MP.

- O Viana esteve afastado menos de 24 horas. Estamos falando de 25 mil contra-cheques autenticados. Há pouco, eles até admitiram e disseram que a lista estava triplicada: em vez de 25 mil seriam 8 mil. Como se houvesse graduação de ladrão. Para mim, não tem meio corrupto nem meio ladrão.

O peemedebista reclama da demora da Justiça:

- O que nos deixa muito triste é a morosidade com que o Judiciário está tratando essa questão. (D.D.)