O Globo, n. 31526, 30/11/2019. Economia, p. 25

Criação de vagas perde ritmo no 2º semestre, e 12,4 milhões ainda buscam oportunidade
Pedro Capetti


A melhora do mercado de trabalho perdeu ritmo no segundo semestre, mostram dados do IBGE divulgados ontem. No trimestre encerrado em outubro, a taxa de desemprego recuou para 11,6% dos trabalhadores. No trimestre terminado em julho, fora de 11,8%. Em números absolutos, 12,4 milhões de brasileiros procuravam algum tipo de emprego em outubro. O desempenho, no entanto, está distante do registrado no primeiro semestre do ano, quando a queda do desemprego foi mais acelerada, chegando a recuar de 12,5% no trimestre encerrado em abril para 11,8% em julho. Segundo especialistas, essa redução acontece no momento em que deveria existir um aumento maior da ocupação, como efeito das festas de fim de ano e do aumento do consumo com a liberação dos recursos do FGTS. No mesmo período do ano passado, a taxa havia ficado em 11,7%.

Maria Andreia Parente Lameiras, técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que o movimento do mercado está mais sensível ao ciclo econômico, que ainda tem crescimento gradual. Ela lembra que os resultados do primeiro semestre foram acima da expectativa, e que a pequena melhora neste semestre está ligada aos componentes sazonais desta época do ano.

— Há uma leve melhora, mas o mercado de trabalho está recuperando lentamente. Já recuperamos um pouco mais rápido, de forma mais intensa, agora o mercado está mais sensível ao ciclo econômico —explica. O resultado de outubro foi puxado pelo desempenho da construção civil, fenômeno que já havia sido observado pela pesquisa nos últimos trimestres, influenciado principalmente por pequenas obras e empreendimentos. O setor é o único com ocupação crescente na comparação com o trimestre encerrado em julho, tendo empregado cerca de 197 mil pessoas em agosto, setembro e outubro. Os demais ficaram estáveis, com exceção do setor de agricultura e pecuária, que apresentou queda de 2,3% no período, perdendo cerca de 199 mil postos no período. Segundo Adriana Beringuy, analista do IBGE, a construção está sendo beneficiada pela oferta de crédito a juros mais baixos. — Ao longo do ano, estamos tendo o incentivo tanto do crédito como da venda de unidades já construídas. Isso impulsiona todo setor, demandando reformas e acabamentos em empreendimentos —comenta. Se comparado ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de 1,4 milhão de brasileiros ocupados no período, principalmente com a expansão da força de trabalho, que também foi de 1,4 milhão de pessoas. Isso significa que mais pessoas estão procurando emprego, disponíveis para trabalhar, e que há uma absorção desse contingente pelo mercado. No entanto, com crescimento menor do que nos últimos meses: o aumento da ocupação foi de 1,3% em julho e de apenas 0,6% em outubro.

— Não houve mudança de trajetória, a população ocupada continua crescendo. Ela está crescendo menos, mas continua crescendo — explica a analista do IBGE.

INFORMALIDADE ALTA

A entrada desses trabalhadores no mercado segue ocorrendo por meio da informalidade. Se considerado todos os tipos de ocupações informais — por conta própria ou no setor privado sem carteira assinada ou CNPJ — já são 41,2% da população ocupada. São 38,8 milhões nessa situação entre os 94,1 milhões de pessoas empregadas.

O número foi influenciado pelo recorde de trabalhadores sem carteira assinada no setor privado e por conta própria. São 11,9 milhões e 24,4 milhões de brasileiros nessas condições, respectivamente. Com o aumento da informalidade, a taxa da população que contribui para o INSS caiu por mais um mês consecutivo, aproximandose da mínima registrada no início de 2012. No trimestre encerrado em outubro, apenas 62,3% dos trabalhadores afirmaram estar contribuindo com o sistema de seguridade social. Em número absolutos, são 58,6 milhões de brasileiros ocupados contribuindo com o sistema previdenciário. Apesar da informalidade crescente, o número de subocupados, aqueles que trabalharam menos de 40 horas semanais e gostariam de ter uma jornada maior, caiu 4,5% em outubro, na comparação com o trimestre encerrado em julho. São menos 545 mil pessoas nessas condições.

Para Rodolfo Tobler, economista da FGV/Ibre, isso pode estar ligado ao aquecimento da economia no fim do ano. Ele lembra que a massa dos rendimentos cresceu 1,8%, chegando a R$ 212,8 bilhões.

— O nível da subutilização ainda é elevado, mas os resultados indicam que parou de piorar. Há uma demanda maior por trabalho e consumo, e essas pessoas podem cumprir uma carga horária maior, o que contribui para o avanço da massa salarial — ressalta Tobler.

Ele afirma que é necessário aguardar os próximos meses para verificar se a redução da subutilização continuará sem os efeitos sazonais.

Para Edson Kina, analista da Necton Investimentos, a melhora de indicadores, como as projeções do PIB, pode sinalizar uma melhora no futuro. Nesta semana, o Boletim Focus revisou o crescimento de 2019 de 0,92% para 0,99%:

— A parte sazonal conta bastante, mas, junto com o sazonal, já vemos efeito da liberação do FGTS, das projeções do PIB melhorando. Isso começa a reverter um pouco a situação, melhorando os indicadores. Perguntados sobre as perspectivas para o mercado de trabalho em 2020, analistas afirmam que é preciso aguardar os próximos meses para apostar em uma desaceleração do desemprego mais acentuada. — Estamos com mais gente trabalhando e com mais pessoas procurando emprego. Elas estão percebendo que está um pouco mais fácil voltar ao mercado. É um sinal de melhora. Na economia, a partir de setembro vemos a reação de alguns setores, que, esperamos, reflita na queda da taxa de desemprego em 2020 — ressalta Maria Andreia.

“Há uma leve melhora. Já recuperamos um pouco mais rápido, de forma mais intensa, agora o mercado está mais sensível ao ciclo econômico”

Maria Andreia Parente Lameiras,

técnica do Ipea