Título: Alerta para alta de preços
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 20/03/2005, Economia & Negócios, p. A21

Estiagem no Centro-Sul faz milho e soja subirem no mercado futuro e analistas garantem que provocará efeito na inflação

A seca que desde o início do ano castiga o Centro-Sul do país e, de acordo com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, pode somar perdas de R$ 7 bilhões, já começa a alterar os preços dos produtos mais afetados pela falta de chuvas. Nos mercados futuros, onde os produtores buscam proteção financeira contra quebras de safras, entre fevereiro e março, a soja para entrega em maio chegou a ser negociada com alta de 31%, enquanto o milho para entrega no mesmo mês subiu 28%.

Segundo Sérgio Del'Arco, analista de mercado futuro da corretora Ágora Senior, o preço do milho teve piso de R$ 17,60 em fevereiro e atingiu R$ 22,55 esta semana.

- A seca nos obrigará a importar milho. O déficit pode ser de 1 milhão de toneladas.

Os efeitos da seca começam a se fazer sentir em outros itens que compõem os índices de inflação.

- Os ovos tiveram aumento de mais de 33% (no IGP-10 de março), devido à baixa oferta. Com o calor excessivo, as galinhas põem menos ovos - explica Fábio Ramos, analista da LCA Consultores.

A estiagem também já interferiu no preço do leite. Em alguns locais, há queda na oferta devido à baixa produção das vacas em decorrência do calor e da falta d'água. O IGP-10, medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), registrou elevação de 1,31% no produto em março, depois de deflação de 0,67% em fevereiro.

O coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, no entanto, minimiza os efeitos da seca sobre o índice que mede a inflação nos 10 primeiros dias de mês.

- O setor de alimentos no atacado teve alta de 5,98%, mas devido a produtos pouco afetados pela estiagem - minimiza.

Ramos, da LCA, no entanto, prevê que os aumentos observados nos mercados futuros de soja e milho vão acabar ''pegando'' nos índices de inflação.

- O milho serve de base para ração de frango e tem impacto na cadeia produtiva - ressalta.

Para ele, a seca acendeu um sinal amarelo para a meta de inflação, de 5,1% pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza as metas de inflação do Banco Central acordadas com o Fundo Monetário Internacional.

- A estiagem não deve se tornar um grande problema. Desde claro, que comece a chover... - ressalva.

Por enquanto, economistas acreditam que o repasse deve ser ameno para o bolso do consumidor final, já que os reajustes devem ficar restritos ao atacado. Mas eles apostam que, ao contrário do ano passado, em 2005 os produtos agrícolas não ajudarão a manter a inflação baixa, devido aos efeitos da estiagem na safra.

O IPCA encerrou 2004 no patamar de 7,6%, enquanto o grupo Alimentação puxou o índice para baixo, com variação anual de 3,86%.

- Este ano isso não vai acontecer. A alta do IPCA deve ficar em torno de 6%, os alimentos também devem variar neste patamar e não vão colaborar para aumentar a inflação, mas também não vão segurá-la - diz Ana Paula Almeida, economista da consultoria Tendências.