Título: Quadrilhas fraudavam Imposto de Renda
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 24/03/2005, País, p. A5
Em Brasília, Anápolis e Goiânia, servidores públicos constituíam a maioria dos beneficiados com restituições irregulares
A Receita Federal, com a ajuda da Polícia Federal, desmontou dois esquemas de desvios milionários no Imposto de Renda. No Centro-Oeste, foram identificados 190 contribuintes - a grande maioria servidores públicos - envolvidos com uma quadrilha que fraudou declarações para receber indevidamente R$ 2,7 milhões em restituições irregulares. Em São Paulo, outro esquema de fraudes contra o IR foi desmontado ontem. No grupo de fraudadores do Centro-Oeste, que inclui contribuintes de Brasília, Anápolis e Goiânia, estão 52 servidores do Senado Federal, 19 do Tribunal de Justiça do DF, 13 da Polícia Civil do DF e 11 do Ministério Público da União. Com a ajuda da PF, a Receita deflagrou a Operação Leão Ferido. Ao realizar operações de busca e apreensão, a Receita passou a estimar um total de 400 contribuintes envolvidos, devido às listas e fichas apreendidas, com nomes de clientes do esquema.
Pela manhã, foram feitas buscas e apreensões no escritório e na residência do contador José Godinho Pontes, em Itumbiara (GO), e nas residências do bombeiro Antônio Nonato da Silva e da dona-de-casa Ana Maria Chaves do Carmo Alves. O contador é apontado como o cabeça das fraudes. Dois computadores de José Godinho enviaram à Receita todas as declarações do IR dos 190 envolvidos identificados até agora.
Antônio e Ana Maria são apontados como os ''vendedores'' dos serviços ilegais de José Godinho em Brasília. Os dois moram no bairro de Santa Maria, na periferia de Brasília. Na casa de Antônio, segundo a Polícia Federal, foram encontrados R$ 43 mil em espécie e R$ 9 mil em cheques. José Godinho teria movimentado R$ 200 mil em Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras em 2004, segundo a PF.
O golpe consistia no envio de declarações retificadoras do Imposto de Renda à Receita. Os servidores públicos faziam a revisão dos últimos 5 anos no IR e apresentavam novos dependentes, novos recibos de médicos e mais despesas com educação. As falsas deduções aumentavam o valor da restituição.
- É um esquema simplório e primário, facilmente detectado pela nossa malha - afirmou o superintendente da Receita no Centro-Oeste, Nilton Tadeu Nogueira.