Título: Em Brasília, Rumsfeld critica Hugo Chávez
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 24/03/2005, Internacional, p. A7

O governo americano está preocupado com a compra de 100 mil fuzis russos AK-47 pelo governo da Venezuela. A declaração, feita pelo secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, ontem em Brasília, foi a primeira manifestação pública de um representante do alto escalão de Washington sobre a negociação entre Caracas e Moscou. O papel do Brasil na estabilidade política da América Latina e as possibilidades de cooperação entre o Planalto e a Casa Branca no combate ao narcotráfico e ao terrorismo foram os principais assuntos tratados na visita do secretário ao Brasil.

- Por que a Venezuela precisa desses fuzis? Não posso imaginar o que vai acontecer com esse armamento - disse Rumsfeld, questionando como o reaparelhamento das forças armadas venezuelanas irá influenciar a estabilidade do continente. - Se a venda ocorrer, não sei o que pode acontecer - completou.

A informação veio a público em fevereiro, quando o jornal venezuelano El Universal divulgou a negociação de 10 helicópteros russos para o ministério da Defesa venezuelano e, em uma segunda fase, a aquisição de 100 mil fuzis AK-47 pelo país, o que ocorreria entre maio e junho deste ano.

Indagado sobre a posição brasileira em relação à compra de armas pelo governo venezuelano, o ministro da Defesa, José Alencar, foi evasivo, e evitou qualquer declaração mais contundente sobre o assunto.

- O Brasil sempre defendeu a auto-determinação dos povos e a não intervenção em assuntos internos - disse Alencar.

O mesmo posicionamento neutro foi adotado pelo ministro ao responder se o Brasil considera as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como um grupo terrorista.

- Claro que nós, à distância, não podemos fazer juízo disso. Mas se a organização adota o crime como meio para levantar recursos, obviamente é uma ação nefasta, que deve ser combatida - disse José Alencar, afinado com a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se esquivar em classificar as Farc como um grupo terrorista.

Donald Rumsfeld negou a informação veiculada pela imprensa argentina de que o governo americano estuda monitorar o espaço aéreo do vizinho brasileiro, durante a primeira etapa da viagem do secretário pela América do Sul, e disse desconhecer qualquer proposta nesse sentido. Ontem à tarde, antes de seguir para a Guatemala, Rumsfeld foi conhecer os radares do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam).