Título: Juro de longo prazo fica em 9,75%
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 24/03/2005, Economia & Negócios, p. A19

Ala desenvolvimentista do governo ganha força com manutenção da taxa, apesar dos aumentos consecutivos da Selic

O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu ontem, por unanimidade, fixar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) em 9,75% ao ano para o segundo trimestre de 2005. Ganha com isso o time dos desenvolvimentistas dentro governo, que tem como capitão o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega. ¿ Há um debate da equipe econômica e normalmente não há frisson na reunião. Há discussões prévias sobre os votos e essa foi uma decisão pacífica ¿ minimizou o diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do Banco Central, Sérgio Darcy.

Taxa de referência usada pelo BNDES para atualizar financiamentos de projetos de investimento, a TJLP vem sendo objeto de divergências na cúpula do governo.

Mantega defende que a taxa deve permanecer mais baixa do que a Selic (19,25% ao ano), para estimular investimentos no setor privado. Na outra ponta posiciona-se, entre outros, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, que defende que a TJLP deve subir para auxiliar a taxa básica de juros no controle da inflação. O cálculo da taxa de juros de longo prazo tem por parâmetros a meta de inflação para o período de 12 meses (5,1% em 2005) e o risco Brasil.

¿ Entendemos que nesse último trimestre não houve evolução que justificasse alguma modificação ¿ comentou o diretor de Normas do Banco Central. Desde janeiro, no entanto, a taxa básica de juros (Selic) aumentou 1,5 ponto percentual, saltando de 17,75% ao ano para os atuais 19,25%.

Sérgio Darcy disse que durante a reunião não houve discussão sobre uma eventual redução ou aumento da taxa. O CMN é constituído pelos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Planejamento e Orçamento, Paulo Bernardo, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) comentou a decisão do governo. O diretor do Departamento de Economia do Ciesp, Boris Tabacof, disse que a TJLP em 9,75% não compromete as expectativas de curto prazo.

¿ Mas a taxa ainda está em um patamar muito elevado, sobretudo quando é constatado que em vários países emergentes a taxa de longo prazo não passa de 5% ao ano. Para o setor industrial, a TJLP deveria chegar ao patamar de 8%, o que seria uma taxa real entre 2,0% e 2,5% ao ano ¿ disse.

Ainda ontem, Guido Mantega disse que o BNDES possui R$ 21 bilhões para investimentos em infra-estrutura. Mantega garantiu que, caso a verba não seja suficiente, o banco pode buscar recursos em captações ou venda de ações.