Correio Braziliense, n. 21371, 19/09/2021. Política, p. 6 
 
Capitais ignoram pasta e vacinam adolescentes 

Raphael Felice 
 
 
Ignorando a orientação do Ministério da Saúde de não vacinar adolescentes sem comorbidades contra a covid-19, 21 capitais e o Distrito Federal decidiram dar continuidade à imunização do grupo. O uso da vacina da Pfizer para pessoas com 12 anos de idade ou mais foi autorizado em junho deste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A inclusão da aplicação para pessoas da faixa etária até 17 anos foi indicada pela pasta para entrar no Plano Nacional de Imunização (PNI) na última quarta-feira. No dia seguinte, contudo, a pasta provocou surpresa ao voltar atrás na recomendação, optando pela suspensão da vacinação sob argumento de adotar cautela. 

A faixa etária pode variar conforme o lugar, e a aplicação depende do estoque de doses disponíveis, mas o Correio apurou que Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte, Palmas, Goiânia, Belém, Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho, Manaus, Maceió, Fortaleza, São Luís, Recife, Aracaju, Salvador, Campo Grande e DF seguem com a vacinação de adolescentes. Macapá e João Pessoa optaram em seguir a orientação da pasta e interromperam a imunização dos jovens. Teresina, Curitiba e Cuiabá ainda não começaram a vacinar a faixa etária. 

Na quinta-feira, quando anunciou o recuo na imunização, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a pasta "pode rever a posição, desde que haja evidências científicas sólidas em relação à vacinação em adolescentes sem comorbidades". Por enquanto, ressalvou, "por uma questão de cautela, nós temos eventos adversos a serem investigados. Nós temos essas crianças e adolescentes que tomaram essas vacinas que não estavam recomendadas para eles. Nós temos que acompanhar esses adolescentes", ressaltou Queiroga, durante coletiva para esclarecer o assunto. 

"O Distrito Federal vai manter a vacinação de adolescentes de 14 ,15, 16 e 17 anos com a vacina Pfizer, como estava previsto. A vacina Pfizer é a única que tem registro definitivo, e ela é mundial. Isso é fundamental. E nunca houve nenhuma manifestação da Anvisa quanto a isso", afirmou o secretário de Saúde do GDF, general Pafiadache. O DF iniciou a vacinação de adolescentes de 17 anos em 24 de setembro. Ontem, o GDF anunciou que na próxima terça-feira iniciaria, também, a vacinação de jovens de 13 anos. 

Morte em SP 

A Anvisa se reuniu com a Pfizer para obter mais informações sobre a morte de um adolescente de 16 anos, sete dias após receber a vacina fabricada pelo laboratório americano. O encontro com representantes da Pfizer, na noite de sexta-feira, não apresentou novas informações sobre o ocorrido, mas a Anvisa definiu que vai realizar uma ação de campo nos próximos dias, em conjunto com as autoridades locais de saúde, para obter mais informações sobre o evento. 

Apesar do interesse em investigar o caso mais a fundo, a Anvisa manteve o posicionamento de quarta-feira sobre não existirem evidências para suspender a vacinação de adolescentes. "Os achados apontam para a manutenção da relação benefício versus risco para todas as vacinas autorizadas no Brasil, ou seja, os benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos", destacou. 

Um estudo feito pelo Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo concluiu que a morte do jovem não foi causada pela vacina. Segundo o diagnóstico que reuniu 70 pesquisadores, a causa foi a doença autoimune, púrpura trombótica trombocitopênica (PPT), considerada rara e grave. Mesmo assim, o órgão regulador afirmou que "participará de uma ação de campo nos próximos dias, representada por um servidor especializado em ações de farmacovigilância e em conjunto com as autoridades locais de saúde, para obter mais informações sobre a investigação do evento". 

Outra entidade que recomendou a manutenção da vacinação de adolescentes foi o Conselho Nacional de Saúde (CNS). Em nota técnica publicada na noite de sexta-feira, o CNS seguiu a linha adotada no posicionamento da Anvisa na quarta-feira e esclareceu que "não há qualquer comprovação de relação da morte do jovem com a vacina contra a covid-19" e que "a vacinação é a melhor evidência para reduzir de casos e óbitos decorrentes da covid-19". 

Segundo o coordenador da Comissão Intersetorial de Vigilância em Saúde, do CNS, Artur Custódio, a medida do Ministério da Saúde diminui a confiabilidade no Programa Nacional de Imunizações. "Não há critérios científicos nessa decisão do Ministério da Saúde. Temos que aumentar a cobertura vacinal. A vacina mostrou a que veio. A desaceleração da pandemia do Brasil mostra o efeito da vacina. É fundamental para a questão das escolas, das pessoas que moram com idosos, que a gente vacine os adolescentes", concluiu.