Título: Tensão até o último minuto
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 24/03/2005, Rio, p. A13

Decidida pela Justiça, montagem do novo hospital de campanha no Centro é atrasada por órgão do município

Até o último instante a prefeitura tentou impedir a montagem do novo hospital de campanha no Campo de Santana, no Centro. Depois de vetar o uso do parque para não prejudicar flora e fauna locais, e de ter o veto derrubado por uma liminar da 11ª Vara Federal, que autorizava a instalação do hospital, a Fundação Parques e Jardins - órgão municipal - tentou impedir a entrada dos caminhões, alegando que o governo federal não tinha entregue um inventário das condições físicas do Campo de Santana. No fim da noite, a União entrou com uma ação cautelar para impedir a prefeitura de retirar do parque a Guarda Municipal, responsável pela segurança da área. Atrasada pelo impasse, a montagem do novo hospital das Forças Armadas começou no início da tarde. A unidade funcionará a partir de segunda-feira, das 7h às 19h, e terá capacidade para atender até 600 pacientes por dia. As pessoas que precisarem de atendimento depois das 19h serão encaminhadas à Policlínica da Vila Militar. O local foi escolhido para desafogar a emergência do Hospital Souza Aguiar.

A presidente da Fundação Parques e Jardins, Vera Dodsworth, exigiu a entrega de um inventário feito pelo Ministério da Saúde com a descrição das condições físicas encontradas no parque para liberar a entrada dos caminhões carregados de equipamentos para o hospital. A fundação também resolveu averiguar o laudo feito pelo Ibama, contestando os pontos que diziam respeito à preservação da flora e da fauna no Campo de Santana. Depois de nova liminar concedida pelo juiz federal Silvio Wanderley do Nascimento Lima , da 11ª Vara Federal, os militares puderam começar a montagem do novo hospital.

Em nota oficial, a prefeitura divulgou que até nova decisão judicial vai acatar a determinação da Justiça Federal e fiscalizar o cumprimento das medidas em nome da preservação do Campo de Santana. O gerente executivo do Ibama, Edson Bedim, explicou as restrições impostas ao Ministério da Saúde para utilizar o parque: só ocupar a área livre, cobrir a grama com plástico e não impedir a passagem de pedestres.

A nova unidade atenderá nas especialidades de clínica médica, ortopedia, ginecologia, pediatria e odontologia.

No terceiro dia de funcionamento do hospital de campanha da Barra, o movimento foi intenso. As senhas começaram a ser distribuídas às 7h e se esgotaram às 9h30. Ao longo do dia, 400 pessoas foram atendidas e os médicos contabilizaram um total de 473 procedimentos realizados. A especialidade mais procurada foi clínica médica (236), seguida de ortopedia (95). Três pacientes foram removidos para o Lourenço Jorge e 11 pequenas cirurgias foram realizadas. O coordenador das unidades sob intervenção federal, Sérgio Cortes, fez um balanço dos primeiros dias de funcionamento, enfatizando a crise no sistema básico de saúde do município.

- A grande procura é o reflexo da total falta de opção da população em atendimento ambulatorial - afirmou Côrtes.

O terceiro hospital de campanha será montado em Deodoro, na Zona Norte, em duas semanas. Ainda segundo Sérgio Cortes, é preciso fazer a climatização adequada das tendas antes de erguê-las.