O Globo, n. 31543, 17/12/2019. País, p. 6

Após derrota em 2018, Paes planeja antecipar anúncio de candidatura
Bernardo Mello


Mesmo sem oficializar sua participação nas eleições de 2020, o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes mantém articulações tendo como pauta a sucessão de Marcelo Crivella (Republicanos). Em almoço na última semana com Rodrigo Garcia (DEM), vice do governador de São Paulo João Doria (PSDB), no Palácio dos Bandeirantes, Paes indicou que anunciará sua candidatura em janeiro, pelo DEM. A informação foi confirmada ao GLOBO pelo empresário Paulo Marinho, aliado de Doria e presidente do PSDB no Rio. Em 2018, Paes demorou e só confirmou a candidatura em julho. Perdeu para o governador Wilson Witzel no segundo turno.

Paes aparece tecnicamente empatado com o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), na liderança das intenções de voto para a prefeitura do Rio, segundo pesquisa Datafolha divulgada pelo GLOBO e pelo jornal “Folha de S. Paulo”. Crivella aparece na terceira colocação, de acordo com o levantamento. A concentração dos eleitores de Freixo e Crivella encontra eco na polarização nacional: o prefeito chega a 16%, o dobro das suas intenções de voto gerais, entre eleitores que aprovam o governo de Jair Bolsonaro, enquanto o deputado é preferido por 35% dos que avaliam o presidente como “ruim ou péssimo”. Paes, por sua vez, se mantém próximo ao patamar de 20% dos votos tanto entre apoiadores quanto críticos de Bolsonaro.

Teto de crescimento

O ex-prefeito chega a 25% dos votos entre aqueles que aprovam ou consideram regular a gestão do presidente, e fica com o segundo melhor desempenho (18%) entre os que reprovam Bolsonaro. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Correligionários de Paes têm apostado que movimentos de Freixo e Crivella pela nacionalização da campanha, com aproximações ao ex-presidente Lula e a Bolsonaro, respectivamente, tende a limitar o teto de crescimento de ambos.

— Pode ser um contrassenso nacionalizar uma campanha em que as pessoas estão preocupadas com questões cotidianas, como a crise da Saúde — afirmou o deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), um dos estrategistas políticos de Paes na última eleição para governador.

Paes também se equilibra entre os opostos quando o assunto é a avaliação do governador Witzel, que derrotou o ex-prefeito em 2018. Entre os que avaliam a gestão de Witzel como ótima ou boa, 26% declaram voto em Paes na próxima eleição municipal, segundo o Datafolha. Paes também recebe o apoio de 18% dos que consideram o governo estadual “ruim ou péssimo”, e de 25% dos que avaliam como “regular”, de acordo com a a pesquisa.

— Paes é um candidato com esse viés de centro. É natural que seja bem avaliado neste momento, pelo passado como prefeito. Mas ele precisará de alianças. Tenho dito há tempos que o centro não pode chegar dividido, como em 2016 — afirmou Paulo Marinho.

Aceno tucano

Com o desembarque de Marinho e do ex-ministro Gustavo Bebianno no PSDB, após o rompimento de ambos com Bolsonaro, Paes chegou a ser sondado para uma candidatura pelo partido tucano. O lançamento do ex-prefeito pelo DEM, no entanto, tem o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Pedro Paulo, que se encontrou com Paes neste mês, é outro que afirma trabalhar “intensamente” para lançar o ex-prefeito em 2020.

Apesar do aceno a Paes, Paulo Marinho defendeu a pré candidata tucana Mariana Ribas, que não atingiu 1% de votos neste levantamento do Datafolha. Segundo Marinho, o desempenho era esperado por ser um nome que nunca disputou uma eleição. O nome de Ribas, ex-diretora da Ancine e ex-secretária de Cultura do governo Crivella, enfrenta resistência no próprio PSDB. O diretório municipal do partido, presidido por Bebianno, voltará a debater em março a candidatura para 2020.

— Hoje nossa aposta é a Mariana. Mas, se houver algum outro candidato de centro mais viável, vamos avaliar lá na frente e apoiar. Tenho certeza que o Paes deseja um apoio do PSDB — disse Marinho.

Procurado pelo GLOBO, Paes não quis se manifestar sobre as eleições de 2020.

Após pesquisa Datafolha, apoio de PDT e Rede a Freixo esfria

Costurada pelo deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), a unidade da chamada “frente progressista” para disputar a sucessão do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), em 2020 ficou mais distante após a divulgação da pesquisa Datafolha no domingo. Freixo, que diz contar com o apoio do PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, viu esfriarem as conversas com o PDT e com o partido Rede Sustentabilidade, que amadureceram a ideia de lançar candidaturas próprias no ano que vem.

Freixo aparece com 18% das intenções de voto, tecnicamente empatado na liderança com Eduardo Paes (DEM), que tem 22%. A margem de erro é de três pontos percentuais. A deputada estadual Martha Rocha (PDT), que chegou a ser cogitada como vice de Freixo, somou 7%. O ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, pré-candidato da Rede — outra legenda procurada por Freixo —, tem 6%. Martha e Bandeira estão tecnicamente empatados com Crivella, que soma 8% dos votos. 

Efeito Flamengo

O desempenho de Bandeira foi recebido com animação no partido Rede, embora a sigla admita uma possível influência do bom momento do Flamengo, clube presidido de 2013 a 2018 pelo ex-dirigente. Bandeira baterá o martelo sobre a candidatura após voltar do Qatar, onde acompanha a participação rubro-negra no Mundial de Clubes.

— Tivemos conversas com Freixo, como conversamos também com PDT, PSB e PV. Mas a intenção agora é lançar o Bandeira. Pode haver aliança, desde que ele seja o candidato — afirmou o porta-voz nacional do partido, Pedro Ivo Batista.

Freixo, que considerava há alguns meses “muito perto” de um acerto com a legenda, agora afirma que “mantém a porta aberta para partidos do campo progressista”, incluindo o partido de Bandeira. Embora a pesquisa tenha alimentado a fragmentação no campo de siglas mais à esquerda, o deputado do PSOL considerou positivo o desempenho.

— A pesquisa nos consolida como uma candidatura que vai disputar de verdade. Ter uma aliança ampla não é importante só para ganhar a eleição, mas também para governar — disse Freixo.

O candidato do PSOL, que tem procurado o ex-presidente Lula, alcança mais de um terço da preferência entre eleitores que reprovam o presidente Jair Bolsonaro, mas soma apenas 3% entre seus apoiadores. Após a divulgação da pesquisa, a deputada Martha Rocha reforçou o desejo de candidatura própria do PDT em aliança com o PSB. As principais lideranças de ambos os partidos têm buscado se descolar de Lula.

Freixo, por outro lado, enxerga o petista como aliado importante na eleição carioca, especialmente para convencer setores nos quais o PSOL tem menos adesão, como o eleitorado mais pobre e menos escolarizado — que tradicionalmente votou no PT nos últimos anos. Dirigentes petistas tentam indicar Benedita da Silva (PT-RJ) como vice de Freixo.

— Lula poderá nos ajudar a crescer no eleitorado que recebe até dois salários mínimos. É esta aliança que nos fará sair da nossa bolha — apostou Freixo.