O Globo, n. 31543, 17/12/2019. País, p. 8

Procuradores reagem a críticas de Toffoli



Coordenador da Lava-Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol rebateu ontem a declaração do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, de que a operação “foi muito importante”, mas “destruiu empresas” em razão do que considera como falta de clareza da legislação sobre os acordos de leniência firmados por pessoas jurídicas. Dallagnol afirmou que “dizer que a Lava-Jato quebrou empresas é uma irresponsabilidade”. Para ele, não se pode fechar os olhos “para a crise econômica relacionada a fatores que incluem incompetência, má gestão e corrupção”.

Toffoli disse ainda ao jornal “O Estado de S.Paulo” que “o Ministério Público deveria ser uma instituição mais transparente”.

“A Lava-Jato foi muito importante, desvendou casos de corrupção, colocou pessoas na cadeia, colocou o Brasil numa outra dimensão do ponto de vista do combate à corrupção, não há dúvida. Mas destruiu empresas. Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos. Jamais aconteceu na Alemanha”, disse.

Ao rebater a declaração de Toffoli, Dallagnol escreveu no Twitter que é preciso valorizar o fato de a operação ter recuperado “mais de R$ 14 bilhões de reais para os cofres públicos, algo inédito na história”.

Além do coordenador da Lava-Jato, outro integrante da força-tarefa na capital paranaense também criticou a declaração de Toffoli. O procurador Roberto Pozzobon escreveu nas redes sociais: “Interessante comentário de quem determinou a instauração de inquérito no STF de ofício, designou relator ‘as hoc’ e impediu por meses o MP de conhecer a apuração”. O inquérito investigava ataques ao STF.

“Respeitosamente, Min. Toffoli, a Lava-Jato não ‘destruiu’ empresa nenhuma. Descobriu graves ilícitos praticados por empresas e as responsabilizou, nos termos da lei. A outra opção seria não investigar ou não responsabilizar. Isso a Lava-Jato não fez”.