O Estado de S. Paulo, n. 46915, 30/03/2022. Política, p. A8

Reitor do ITA recebe apoio de nomes do Centrão para assumir Educação

Renata Cafardo 


 

O atual reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia, está sendo cotado para substituir o pastor Milton Ribeiro, que foi exonerado anteontem do Ministério da Educação (MEC). Ribeiro pediu para deixar o cargo após denúncias de corrupção envolvendo o favorecimento a religiosos que faziam parte de um gabinete paralelo na pasta. O caso foi revelado pelo Estadão.

Segundo apurou o Estadão, Correia, que é evangélico, tem recebido ligações de integrantes do Centrão para sondá-lo sobre a possibilidade de assumir o posto. Ontem, ele teria ainda uma conversa com o líder do PL na Câmara, deputado Altineu Cortes (RJ).

O reitor, de acordo com interlocutores, estaria disposto a aceitar o cargo e seria uma boa opção técnica, mas também alinhada aos evangélicos e ao Centrão. O presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a considerar o nome de Correia para substituir o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, em junho do ano passado, mas optou por Ribeiro.

Correia havia sido indicado por deputados da bancada evangélica, como Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Marco Feliciano (PL-SP). Diante dos episódios envolvendo Ribeiro, Sóstenes – que é presidente da Frente Parlamentar Evangélica – declarou que o então ministro não tinha sido sua escolha e destacou sua preferência pelo reitor do ITA. Agora, no entanto, a indicação está partindo de políticos ligados ao exdeputado Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, e não dos evangélicos.

Currículo. Anderson Correia é engenheiro civil formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre pelo ITA. Ele fez doutorado em Engenharia de Transportes na Universidade de Calgary, no Canadá.

No governo Bolsonaro, Correia já exerceu o cargo de presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), mas deixou o posto depois de se voluntariar e passar na seleção para reitor do ITA.

Ele também fez parte do grupo militar que trabalhou na transição do governo Bolsonaro e ajudou a compor o ministério de Ricardo Vélez Rodriguez. Desde a saída de Vélez, primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, o nome do reitor surge como substituto para comandar a pasta.

Gabinete Paralelo. Milton Ribeiro pediu demissão dez dias após a publicação, pelo Estadão, da primeira de uma série de reportagens que revelou a atuação de um gabinete paralelo no MEC, com cobrança de propina até em barra de ouro em troca da liberação de recursos para escolas. O pastor foi o quarto ministro da pasta a deixar o governo.

Com a demissão, o governo Bolsonaro passará por sua quinta gestão diferente do MEC. Além de Ribeiro e Weintraub, comandaram a área federal da educação o professores Ricardo Vélez Rodriguez e Carlos Alberto Decotelli. Este último teve a nomeação publicada no Diário Oficial da União, mas ficou somente cinco dias na função, por inconsistências no currículo. Todas as gestões até agora foram marcadas por polêmicas e um histórico de crises.

Na carta de demissão entregue a Bolsonaro, Ribeiro disse que as reportagens revelando corrupção no MEC provocaram "uma grande transformação" em sua vida. "Tenho plena convicção de que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário."

"As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade", escreveu o então ministro. Ribeiro deixou o cargo dizendo estar "de coração partido". 

Engenheiro

Anderson Correia já havia sido cotado para substituir Abraham Weintraub no MEC