Título: Premier libanês renuncia
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/04/2005, Internacional, p. A9

Anúncio agrava a crise e ameaça atrasar pleito

BEIRUTE - O primeiro-ministro libanês Omar Karami, pró-Síria, anunciou novamente sua renúncia, retirando-se ontem das negociações que mantinha com outras forças políticas desde 1º de abril para formar um novo governo.

Karami já havia abdicado do cargo em 28 de fevereiro e foi indicado de novo pelo presidente Émile Lahoud para compor o governo, porém desistiu após não conseguir um acordo com as diversas forças políticas libanesas.

A renúncia agrava ainda mais a crise política e institucional que vive o Líbano e ameaça as eleições legislativas, já que um novo governo deve estar formado até a realização do pleito, antes do fim de maio. É nesta ocasião que expira o mandato do atual Parlamento, integrado por 128 deputados, na maioria pró-sírios.

Em entrevista coletiva, o político explicou que os esforços para formar um gabinete de unidade nacional foram frustrados ao colidir com ''desejos e interesses contraditórios''.

- Tentamos superar todos os obstáculos. No entanto, mais uma vez chegamos a um beco sem saída - destacou, antes de negar que haja diferenças com Émile Lahoud e o chefe do Parlamento, Nabih Berri.

Karami revelou ainda que decidiu se retirar do grupo de Ain al Tine, que reúne políticos pró-sírios e que desde 1º de abril mantém contatos para formar um governo que acabe com a crise, iniciada após o assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, em fevereiro. A oposição culpa pelo crime o governo de Damasco, que exerce um poder tácito sobre Beirute.

- Na segunda-feira, me reuni durante mais de cinco horas com Lahoud e Berri no palácio presidencial e tentamos superar todos os obstáculos, mas não conseguimos - afirmou Karami. - Meu desejo era formar um governo capaz de realizar eleições limpas, que orgulhasse a opinião pública.

Nas dias anteriores, a imprensa revelou que a negociação havia fracassado devido a divergências sobre a lei eleitoral e sobre a distribuição de cargos nos ministérios entre as figuras políticas pró-sírias.

- A decisão é tardia e revela as verdadeiras intenções dos resíduos do sistema de segurança, que tentava adiar as eleições - disse o opositor Elias Atallah.