Título: Os passos da tradição
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2005, Internacional, p. A8

O cardeal camerlengo é o encarregado de verificar que o papa morreu e de retirar de seu dedo o ''Anel do Pescador'', símbolo do poder pontifício, num sinal de que o reinado acabou. Depois, o anel é destruído, junto com o selo de chumbo, na presença de cardeais, para evitar que seja feita qualquer falsificação de documentos pontifícios.

Nos primeiros séculos, para saber se o papa estava morrendo, o médico aproximava de seus lábios uma vela acesa. Se a chama se movimentasse, significava que ele ainda estava vivo. Agora, são os médicos que determinam o falecimento. Confirmada a morte, o responsável pela casa pontifícia anuncia a notícia: ''O papa morreu''.

Todos os presentes se ajoelham e, por ordem hierárquica, começam a se aproximar do corpo para beijar a mão do líder morto. São acesos quatro círios perto dos pés da cama do papa e colocado um pote com água benta junto ao leito.

O cardeal camerlengo, que passa a usar um traje violeta (de luto) e se torna a maior autoridade da Igreja, entra no quarto escoltado por uma equipe da Guarda Suíça com alabardas, símbolo da nova autoridade, para comprovar oficialmente a morte do papa. O camerlengo se aproxima da cama, retira o lenço que cobre o rosto do pontífice e o chama três vezes, pelo nome de batismo. Depois, bate levemente em sua testa com um pequeno martelo de prata e marfim.

Após verificar o falecimento, diz vere papa mortuus est (de verdade o papa morreu). Em seguida, retira do dedo o ''Anel do Pescador''. O tabelião da Câmara Apostólica registra o falecimento em ata para que os sinos de São Pedro possam soar, anunciando a morte.

O corpo do papa é então entregue aos embalsamadores. Se ele não tiver manifestado contrariedade, são extraídas suas vísceras para depósito em urnas que se conservarão na cripta subterrânea da igreja de São Vicente e São Anastácio, em frente à Fonte de Trevi.

Embalsamado, o corpo é levado à Capela Sistina e colocado debaixo do Juízo Final, onde os fiéis prestam as últimas homenagens. No dia seguinte, é trasladado à basílica de São Pedro e fica diante do altar da confissão - onde permanece por três dias.

O papa é levado até o local em procissão liderada pelo cardeal decano e pelo camerlengo. O corpo é colocado num féretro de cipreste e veludo carmesim.

Um prelado lê os fatos mais importantes de seu pontificado e, no final, introduz o pergaminho em um tubo de cobre que sai do caixão junto com um saco de veludo com moedas e medalhas de seu pontificado. Depois, sela-se o féretro, sobre o qual ficam um simples crucifixo e uma Bíblia aberta.

Por meio de polias, o caixão desde à cripta vaticana, onde permanecerá até que o sarcófago definitivo do pontífice esteja pronto.

De acordo com a tradição, o papa deve ser enterrado na basílica do Vaticano, perto do túmulo de São Pedro. Entretanto, João Paulo II pode ter deixado um testamento com o desejo de ser enterrado no jazigo de sua família, em Wadowice, na Polônia.