Título: Vaticano moderno
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2005, Internacional, p. A9

O escritório de imprensa do Vaticano tem regras notoriamente restritas sobre horários de fechamento, com luzes sendo apagadas e repórteres expulsos impreterivelmente às 15h, mesmo que estivessem escrevendo matérias urgentes. Por isso foi marcante o fato de o porta-voz papal, Joaquin Navarro-Valls ter anunciado ontem que a sala ficaria aberta durante toda a noite.

Com a atenção mundial voltada para o papa João Paulo II em uma era de comunicação global instantânea, os procedimentos do Vaticano se afrouxaram. Tanto que foi autorizada a permanência de mais de duas dúzias de antenas de satélite em caminhões ocuparam a Via della Concilazione, a principal via para a Praça de São Pedro.

Também foi acelerada a expedição de credenciais de imprensa, um processo até então bastante lento, para atender à enorme demanda. O problema na capital italiana passou a ser arrumar um hotel. Nenhum deles aceitava reservas.

Observadores lembram que quando o papa recebeu os cardeais americanos em Roma, em abril de 2002 - em função da crise pelo escândalo dos abusos sexuais - o escritório de imprensa foi fechado assim que a entrevista coletiva com os visitantes terminou, deixando-os sem ter local para escrever. Todos tiveram que enviar seu material de computadores de hotéis ou cyber-cafés.

Quando João Paulo II foi baleado em 1981, o escritório de imprensa do Vaticano ficou aberto durante a noite. Mas os vaticanistas - assim são chamados os credenciados permanentes - disseram que a noite de ontem foi a primeira na memória em que houve a decisão de manter a sala aberta.

O local, no entanto, não comporta o volume de pessoal. Na sexta-feira, dezenas de jornalistas tentavam conseguir a credencial para iniciar o trabalho. A confusão era tamanha que a distribuição do primeiro boletim médico, ainda pela manhã, se transformou em uma batalha, com todos os profissionais na sala se jogando sobre a mesa com os boletins de imprensa ao mesmo tempo.