Título: Italianos dominam discussões
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2005, Internacional, p. A9

Apesar do sigilo que cerca sucessão papal, fontes eclesiásticas acreditam que Igreja retornará às tradições históricas

VATICANO - Com o papa João Paulo II incapaz de seguir à frente da Igreja, alguns importantes nomes do Vaticano já arriscam dizer que, quando os cardeais se reunirem para escolher o próximo ocupante do trono de São Pedro, a deliberação deverá recair sobre um candidato italiano ''seguro'', como a maioria dos papas do passado.

- São séculos de tradição e essa nacionalidade não deixaria arestas, o que poderia acontecer se o eleito fosse um americano, um alemão ou um francês - afirma um nome importante do Vaticano, sob anonimato.

- Não creio que o colégio arriscará de novo em um estrangeiro. Os italianos são o círculo mais próximo do poder. Eles realmente sabem como a Cúria romana funciona - acrescenta outra fonte bem situada e conhecedora da burocracia interna da instituição.

João Paulo II foi o primeiro não-italiano em mais de 450 anos a liderar a Igreja. Altamente conservador na doutrina e liberal em pontos de vistas liberais, o Pontífice galvanizou o mundo católico. Mas muitos cardeais acreditam que o sucessor de João Paulo II precisa emergir do consenso espiritual do Concílio Vaticano II, em 1960, que foi o responsável pela abertura da Igreja ao mundo moderno. Se o Vaticano optar pelo retorno ao modelo italiano, observadores dizem que um nome é o do cardeal arcebispo de Milão - a maior diocese da Europa - Dionigi Tettamanzi.

- O prelado de 71 anos é favorecido porque é um pastor e um intelectual, além de ser alguém próximo do que João Paulo II representava, o que indicaria continuidade, porém com novas idéias - disse a fonte.

Figura chave no último conclave, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, o chefe da doutrina da Igreja, deverá exercer grande influência na escolha, além de ser também candidato. Com ele disputa o número 2 do Vaticano, o Secretário de Estado, cardeal Angelo Sodano, como Ratzinger também de 77 anos.

Entretanto, as chances deste último, acredita-se estariam comprometidas pela sua grande proximidade com João Paulo II em um papado extremamente centralizador. Além disso, desde o último conclave a organização católica conservadora Opus Dei emergiu como uma força, com muitos adeptos entre os participantes do colégio vindos da Europa e América Latina, como o cardeal espanhol Julian Herranz e o italiano Angelo Scola, de 63 anos.

As regras dizem que cardeais que participam do conclave devem manter segredo sob pena de excomunhão, além de ''se absterem de qualquer forma de pacto, acordo, promessa ou outro tipo de compromisso que possa obrigá-lo a dar ou negar seu voto''. Não se pode fazer campanha ativa, uma vez que os cardeais representariam a vontade de Deus na escolha e estariam guiados pelo Espírito Santo quando exercem o voto.

Nada disso, no entanto, evita debates acalorados entre eles em torno do melhor nome para simbolizar a Igreja, já que o catolicismo engloba muitas vertentes. Há muito ruído sobre candidatos, embora seja pouco mais que especulação.

Há quem diga que João Paulo II quebrou para sempre o padrão italiano e que seu sucessor pode vir de qualquer país. Nesse caso, o cardeal nigeriano Francis Arinze tem chances. De qualquer forma, havendo um consenso, pode vir um papa mais jovem, como João Paulo II era em seu conclave, para conduzir as políticas elcesiásticas. Se a discordância imperar, a escolha pode recair a um nome mais idoso como forma de temporizar. Nesse caso, o cardeal austríaco Christoph Schoenborn, de 60 anos, é visto como um conservador em assuntos de doutrina e liberal nas questões sociais, além de próximo das Igrejas ortodoxas do Leste. Como exemplo, observadores dizem que ele tende a liberar o celibato entre padres enquanto mantém o veto à ordenação de mulheres, contracepção, aborto, clonagem terapêutica e eutanásia.