Título: Lula faz reforma no varejo
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 14/04/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - Uma reforma silenciosa vem aguçando a sede dos partidos aliados ao governo Lula nos bastidores do poder. Em disputa, cargos estratégicos de segundo e terceiro escalões. Na maioria dos casos, postos capazes de dispor a quem abocanhá-los inigualável prestígio e poder políticos, além da possibilidade de manejar um gordo orçamento - fatores essenciais para pavimentação do caminho rumo ao triunfo nas urnas em 2006. Ao contrário da reforma ministerial, escancarada aos quatro cantos do Planalto durante quase seis meses, a nova disputa por cargos federais em todo o país - para muitos a reforma que realmente interessa - guarda como característica um silêncio quase lúgubre. Longe dos holofotes, presidentes e líderes de partidos articulam cada um a sua maneira para assegurar o maior número de vagas possível.

A reforma dos cargos de segundo e terceiro escalões também interessa a quem está do outro lado do balcão. Essa reacomodação é vista pelo Planalto como uma maneira de apaziguar os ânimos na base e mobilizar os parlamentares no Congresso em torno dos projetos de interesse do governo.

No núcleo mais próximo a Luiz Inácio Lula da Silva, a reorganização de um apoio consistente no Congresso passa pela participação maior de PMDB, PTB e PP no governo a partir de agora. A rigor, o Palácio do Planalto conta com 200 votos garantidos dentro da Câmara, mais ou menos a mesma quantidade que Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) obteve como candidato à Mesa da Casa. A preocupação estende-se também ao Senado, onde o PT tem apenas 13 cadeiras.

- Tudo que for amarrado agora também servirá para o apoio à reeleição de Lula. O que passa também por conversas com governadores. A costura do acordo com o PMDB envolve a indicação do vice - afirma um dos principais auxiliares do chefe do Executivo.

O PMDB aguarda apenas o retorno do presidente do exterior para retomar as negociações. Um encontro para os próximos dias foi confirmado pelo chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, num telefonema à lideranças do partido. Outros partidos governista também esperam ser recebidos em breve.

Os peemedebistas não querem pouco. Na lista de pedidos constam diretorias do Banco do Nordeste, Banco do Brasil e das estatais como Eletrobrás e Eletronorte. Com um orçamento de R$ 3 bilhões, o Banco do Nordeste, por exemplo, é terreno fértil para os interessados em fazer política na região.

A presidência da Infraero, estatal responsável pela administração dos 66 aeroportos do país, também é um desejo antigo do PMDB. Hoje a estatal é presidida pelo ex-senador Carlos Wilson (PTB). Caso a empresa venha a ser controlada pelos peemedebistas, a indicação caberá ao líder do partido na Câmara, deputado José Borba (PMDB-PR).

- As maiores pendências do governo são com o PMDB da Câmara - diz um peemedebista.

Mas o PMDB do Senado, que já levou o Ministério da Previdência, hoje controlado por Romero Jucá, permanece indócil. Além da Fundação dos Correios, hoje nas mãos do senador Edison Lobão (PFL), senadores ligados a Hélio Costa (PMDB-MG) se movimentam para substituir o ex-senador Sérgio Machado do comando da Transpetro, estatal do Sistema Petrobras. Em seu lugar, assumiria o suplente do senador mineiro, Carlos Eduardo Fioravante.

O PTB é outro partido à espera do retorno do presidente, quando espera ver contemplados os pleitos apresentados em reunião logo após a minirreforma ministerial. Capitaneados pelos deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ), presidente da legenda, e José Múcio Monteiro (PTB-PE), líder na Câmara, os petebistas esperam ser nomeados para pelo menos quatro cargos de expressão: diretoria de Furnas, da área tecnológica dos Correios, da Petroquisa, e Itaipu Binacional.

Com o acréscimo na capacidade instalada há três anos, a hidrelétrica Itaipu, que ostenta um orçamento anual de US 2,5 bilhões, passou a ser estratégica para a estabilidade do sistema elétrico nacional. A indicação inicial do partido para o cargo era o ex-deputado Joaquim dos Santos Filho. Mas o PTB se viu na contingência de procurar um outro nome. Motivo: o governo o vetou porque o ex-deputado é réu na 3ª Vara Federal, em Curitiba, e foi mencionado na CPI do Banestado.

Mas o partido não pode reclamar da boa vontade do Planalto. Em março, conseguiu emplacar o novo presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Luis Apolônio Neto, no lugar de Lídio Duarte. O IRB, que distribui por ano US 30 milhões em comissões para corretoras privadas, deu lucro de R$ 430 milhões em 2004, R$ 100 milhões a mais que o ano anterior.

O PSB, com uma bancada de 16 deputados e dois senadores, também quer ampliar sua fatia no poder. Na última reunião com o presidente Lula, que contou com a presença do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, encaminhou uma lista com três pedidos considerados essenciais pelo líder Renato Casagrande (PSB-ES): uma diretoria da Funasa, no Maranhão, e outra do Inmetro, em Goiás, e a gerência da ponte (Binacional) ligando o município de São Borja a São Tomé, no Rio Grande do Sul.