O Estado de S. Paulo, n. 46923, 07/04/2022. Economia & Negócios, p. B5

Falta de interlocução política trava projeto de venda dos Correios

Amanda Pupo


A ausência de uma liderança do governo no Senado e o domínio das eleições na pauta do Congresso ajudam a sepultar o projeto de lei da venda dos Correios. Integrantes da equipe econômica, antes esperançosos com a privatização da empresa que tem o monopólio postal, já admitem que há pouca perspectiva para o andamento do assunto no Senado. Ao Estadão/broadcast, um parlamentar ligado ao governo classificou o assunto como "temporariamente engavetado".

A mudança de cenário dependeria de um esforço de interlocução política da gestão Bolsonaro, observam fontes, o que é visto como difícil, já que o Executivo não conta com um líder na Casa. O cargo está vago no Senado desde dezembro, quando Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) deixou a posição.

Outro fator que pesou contra o projeto foi a devolução da relatoria pelo senador Márcio Bittar (União Brasil-ac), que não integra mais a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde a proposta está atualmente. Ao lado dos governistas, Bittar ficou praticamente isolado na defesa da pauta durante o ano passado.

Em outubro, o senador chegou a apresentar um relatório favorável à aprovação do texto sem mudanças na versão chancelada pela Câmara. Diante da resistência, mudou a estratégia e divulgou um novo parecer em novembro, mas isso não foi suficiente para destravar a votação na CAE.

A ideia é vender 100% da empresa e firmar um contrato de concessão para repassar os serviços públicos desempenhados pelos Correios.

Para justificar a venda, o governo alega que há incerteza quanto à autossuficiência e à capacidade de investimentos da companhia. Na avaliação do Executivo, isso reforça a necessidade da venda para evitar que os cofres públicos sejam responsáveis por investimentos da ordem de R$ 2 bilhões por ano.

Lucro recorde. No mês passado, quando anunciou o lucro recorde da estatal alcançado em 2021, de R$ 3,7 bilhões, o presidente dos Correios, Floriano Peixoto, afirmou que os Correios ainda não atingiram o patamar que garanta a perenidade dos negócios.