O Globo, n. 31466, 01/10/2019. País, p. 5

Bolsonaro indica livro de torturador a professora

Gustavo Maia


O presidente Jair Bolsonaro sugeriu que um grupo de estudantes transmitisse a uma professora a sugestão de leitura da obra “A Verdade Sufocada —A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça”, escrita por Carlos Brilhante Ustra. O episódio ocorreu ontem pela manhã, quando Bolsonaro deixava o Palácio da Alvorada.

Morto em 2015, o coronel Ustra comandou o DOICODI (Destacamento de Operações e Informações) em São Paulo, no auge da repressão da ditadura militar, e foi condenado em segunda instância por tortura. O livro com as memórias dele já havia sido mencionado anteriormente por Bolsonaro como o favorito para manter na cabeceira.

No encontro informal com o presidente, um dos jovens mencionou uma professora e pediu que Bolsonaro mandasse um abraço para ela, sem dar mais detalhes. O presidente questionou se a docente era de esquerda e ouviu dos estudantes que ela é petista.

—Fala pra ela ler o livro ‘A Verdade Sufocada’ aí. Só ler. Depois ela tira as conclusões. Lá são fatos, não é blá blá blá de esquerdista não —comentou Bolsonaro.

Durante a conversa de seis minutos com apoiadores, Bolsonaro se dirigiu aos jornalistas que estavam no local apenas para comunicar que não concederia entrevista, ao contrário do que fez nos últimos meses.

—Imprensa, gosto muito de vocês, mas tudo é deturpado. Quando vocês fizerem uma matéria real do que aconteceu lá na ONU, eu dou entrevista para vocês, tá ok? Um abraço aí —afirmou, em referência à repercussão de seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas na semana passada.

“Fala pra ela (a professora) ler o livro ‘A Verdade Sufocada’ aí. Só ler. Depois ela tira as conclusões”

Jair Bolsonaro, em conversa com estudantes na porta do Palácio do Alvorada.