Título: A vitória da esperança
Autor: Giovana Vitola
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2005, Internacional, p. A12

Indiana com história semelhante à de Terri Schiavo melhorou após tratamento

A indiana Nidhi Kapoor tem uma história de vida parecida com a da americana Terri Schiavo, nos Estados Unidos, que morreu ontem depois de 15 anos vegetando em função de graves lesões cerebrais. Nos últimos 17 anos, Nidhi também viveu como um vegetal após sofrer um acidente de moto com o noivo na capital indiana. Isso foi em 1988. Nidhi tinha 21 anos e era uma estudante universitária quando uma ida ao cinema mudou a sua vida. Faltavam poucos dias para o casamento.

O acidente provocou um grande hematoma subdural, afetando seriamente o cérebro, e atingiu a coluna vertebral. Nidhi ficou inconsciente e tetraplégica. Inerte na cama, só dava sinal de vida por piscadas de olho, que os médicos não sabiam precisar se eram alguma reação racional. Sua vida e a da família ficaram em suspenso.

- Eu só conseguia f icar olhando para a minha filha deitada sem poder se mover ou emitir qualquer som - recorda, ao JB, Sunita Kapoor, mãe de Nidhi.

A família via suas esperanças sumindo a cada tentativa fracassada de fazê-la recobrar a consciência. Em nome da esperança, os pais de Nidhi apela ram para homeopatia, ioga, massagem e até astrologia. Quase mudaram o nome de Nidhi para Bhawna, seguindo a orientação de um guru. Mas foi a sugestão de um casal de amigos, no ano passado, que os levou à médica Gita Shorff, uma especialistas em terapia por transplante de células-tronco.

Shroff começou com o tratamento há um ano, injetando na espinha dorsal de Nidhi células retiradas de embriões humanos. A médica disse que, aparentemente, o caso de Nidhi era apenas um pouco menos grave que o de Terri Shiavo, mas que deveriam ter dado uma chance a Schiavo.

- Deveriam ter tentado de tudo com ela - lamentou Sroff.

Hoje, após o tratamento em uma clínica particular de Nova Déli, o pai de Nidhi, Omesh Kapoor, não cabe em si de alegria.

- Minha filha pode sorrir, chorar, falar, ficar de pé, ser um ser humano de novo - afirmou.

O tratamento fez Nidhi recobrar a consciência, mas não curou as seqüelas do acidente. Freqüentemente ela se curva para o lado esquerdo - demonstrando problemas de equilíbrio - e suas pernas às vezes fazem movimentos involuntários. Mas a pior das seqüelas, segundo a família, é a sentimental.

- A parte mais triste de sua recuperação foi o dia em que perguntou pelo noivo - contou Deepika, irmã de Nidhi. - Quando dissemos que tinha se casado e morava nos Estados Unidos, ela começou a chorar.

Porém, segundo Deepika, a reação da jovem também trouxe uma percepção positiva.

- Nidhi mostrou que pode se emocionar novamente e que sua memória está voltando. Isso é bom - completou Deepika.

Aos 38 anos, Nidhi continua alheia a muita coisa. Não conhece a internet, não sabe dos atentados de 11 de setembro de 2001 nem do terremoto e das ondas gigantes de dezembro de 2004, que mataram quase 300 mil pessoas, muitas na Índia. Ela ainda vive nos anos 80.

Para a família Kapoor, pouco importa. Os 17 anos que passaram desapareceram assim que ela balbuciou as primeiras palavras após voltar do coma:

- Eu amo vocês.

Shroff ainda citou mais dois casos semelhantes ao de Schiavo, entre eles o de uma menina que nasceu com sérias lesões cerebrais e em estado vegetativo, mas que agora, com dois anos de vida e após seis meses do mesmo tratamento de Nidhi, tem comportamento normal.

- Ela pode comer, beber, responder, chorar, começar a pronunciar palavras - disse Shroff.

Outro exemplo é o de uma jovem de 27 anos que nasceu com distúrbios mentais, frequentou colégio para crianças especiais, mas começou com o mesmo tratamento com Shroff aos 24 anos.

- Após um ano ela estava completamente normal e casada com um homem normal - contou a médica.

Shroff disse que tentou sem sucesso entrar em contato com os pais de Terri Schiavo através da embaixada dos EUA na Índia. Ela deixou uma carta pedindo acesso à americana para tentar curá-la, como fez com seus outros pacientes. A carta seguiu no dia 23 de março, mas não houve resposta.

Shroff arrisca dizer que Terri poderia ter voltado a uma vida normal. A médica teve acesso a um vídeo que mostrava alguns ruídos vindos de Terri e seus olhos em movimento.

- Isso é sinal de resposta - disse a médica. - Eu gostaria de ter feito alguma coisa por ela, gostaria de ter podido examiná-la - completa, achando que Schiavo sofreu sem comida e sem água. - Não há mais como saber - conclui.