Título: Polícia já tem dois suspeitos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2005, Rio, p. A16

Ministério Público ouve sobrevivente de chacina e deputados revelam crise interna no comando do batalhão em Duque de Caxias

Reprodução Retrato falado de um dos dois matadores

A hipótese de dois policiais militares dos batalhões de Queimados (24º) e Mesquita (20º) terem participado da chacina de quinta-feira é investigada pela polícia. Os dois policiais, cujos prenomes seriam Fabiano e Felipe, são conhecidos em diversas regiões da Baixada Fluminense como violentos. A polícia vai investigar se havia relação de amizade entre os dois e os oito policiais militares presos no 15ºBPM (Duque de Caxias), acusados da morte e posterior degola de duas pessoas na terça-feira. Uma das vítimas sobreviventes deu depoimento ontem, no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, a três promotores do Ministério Público (MP) estadual. O depoimento foi tomado pelo subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos, Leonardo Chaves; pelo coordenador de Direitos Humanos do MP, Gianfilippo Pianezzola, e pela coordenadora da Central de Inquéritos da Baixada, promotora Mônica Marques. O depoimento foi acompanhado pelos deputados federal Chico Alencar e estadual Alessandro Molon (ambos do PT).

- Os crimes revelam covardia e total desprezo pela vida humana. O Ministério Público não descansará enquanto não forem exemplarmente punidos os seus autores - disse o procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira.

Após o depoimento, a testemunha, baleada na perna, foi transferida, em sigilo e sob forte proteção policial, para um hospital no Rio de Janeiro.

O sobrevivente que prestou depoimento ontem estava em um bar próximo ao local - um outro bar - para o qual foram dirigidos os primeiros tiros. Ele viu quando chegou um Gol branco, do qual saiu um homem de 1,70 m, moreno, de cabelo preto, cortado à máquina. Este homem se dirigiu ao bar e fez inúmeros disparos. Voltou ao carro, que arrancou, manobrou e veio em direção ao bar onde estava a testemunha. Fez, então, um único disparo, atingindo-a na perna. Após ouvirem a testemunha, os promotores foram para a Delegacia da Posse e para o Instituto Médico-Legal (IML).

O Ministério Público foi informado que as perícias de local já foram realizadas e que foram recolhidos, em ambos os locais, cápsulas de fuzil, de pistolas .40 e .380. O material foi encaminhado ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE).

Uma crise entre o coronel Paulo César Lopes, comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), e os policiais menos graduados (sargentos e soldados) do batalhão atingiu seu ápice no assassinato das vítimas que foram identificadas como Anderson Ferreira Gomes, de 28 anos, e André Luís de Almeida Sales, de 27.

De acordo com denúncias feitas pelos deputados Marcos Abrahão (PRTB) e Andreia Zito (PSDB) no plenário da Assembléia Legislativa do Rio no mês de março, o extremo rigor de Lopes com seus comandados chegava ao ponto de dar punições rigorosas para infrações leves, como falta de zêlo no uniforme ou atrasos.

Diz o deputado Marcos Abrahão, em um pronunciamento:

''O coronel (João Carlos Ferreira, inspetor-geral das polícias) fez papel de mariquinha, de fofoqueiro, um papel muito feio, porque esteve nesta Casa, no gabinete do deputado Iranildo Campos. Ele pescou tudo, ficou sabendo tudo que tínhamos. Levou das minhas mãos um CD onde havia filmagem do 15º BPM. Ele conseguiu tirar, com muita habilidade, da deputada Andreia Zito, o nome de alguns policiais que estavam fazendo a denúncia. E para quê? Simplesmente pelo fato de dar isso de mão beijada àquele insano do coronel Lopes, para que ele possa continuar fazendo as suas atrocidades naquele batalhão''.

A deputada Andreia Zito afirmou que Lopes é ''apadrinhado'' do inspetor-geral João Carlos. E disse que tentou três vezes criar uma comissão especial na Alerj para apurar abusos de autoridade do oficial:

- Não conseguimos criar a comissão, mas ouvi diversas denúncias de parentes de policiais sobre o assunto.