O Globo, n. 31519, 23/11/2019. País, p. 8

O PSL de Witzel
Paulo Cappelli
Naira Trindade
Bernardo Mello


Após a ida do presidente Jair Bolsonaro para o Aliança pelo Brasil, o PSL abriu as portas para o governador do Rio, Wilson Witzel. Hoje desafeto de Bolsonaro, o ex-juiz recebeu na última terça-feira, no Palácio Guanabara, uma visita de representantes da Executiva Nacional da antiga legenda de Bolsonaro. Presidente e os filhos anunciaram recentemente o desembarque e lançaram anteontem a sigla que pretendem criar a tempo das eleições municipais do ano que vem. Mirando outra corrida eleitoral —pela presidência da República, em 2022 — encontraram-se com Witzel o vice-presidente nacional do PSL, Antônio Rueda, e os deputados federais Junior Bozzella (SP) e Sargento Gurgel (RJ). Segundo um interlocutor, durante a reunião, Rueda chegou a brincar com a pretensão de Witzel de conquistar o Palácio do Planalto: “De eleger presidente, o PSL entende”. A mudança de sigla poderia entregar ao atual filiado do PSC um volume maior de recursos do fundo partidário e mais tempo de propaganda eleitoral na televisão. O PSL mantém hoje a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, com 53 deputados, enquanto o PSC tem a décima quarta na Casa, com nove parlamentares.

Ao GLOBO, Bozzella confirmou que o PSL cogita Witzel como uma possibilidade para a disputa presidencial de 2022. Segundo o parlamentar, o nome do governador é considerado junto com os de outros políticos de direita — ele chegou a citar como exemplo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

— É difícil o PSL ficar de fora das eleições de 2022, no sentido de ter um protagonismo e candidatura própria. O Witzel é uma opção, é um dos nomes, assim, como podem ter outros nomes no campo da direita que queiram se aproximar do PSL, como o próprio Doria — disse o parlamentar.

A NOVA DIREITA

Rueda e Sargento Gurgel descreveram a conversa com Witzel em tom mais contido. O vice-presidente do PSL disse que houve apenas “uma visita institucional de cortesia” sem relação com eleições presidenciais. Gurgel, por sua vez, não negou que vê de maneira positiva a integração de novos integrantes ao partido.

— O PSL está de portas abertas para todas as figuras de direita, mas não se fala em campanha presidencial com tanta antecipação. O melhor dos mundos é agregar essa direita que está nascendo e tende a se consolidar na política. E trabalhar pelo sucesso do presidente Bolsonaro e dos governos Doria e Witzel. Algo diferente dessa linha só poderá ser traçado depois das eleições municipais do ano que vem — disse Gurgel. A avaliação da cúpula do PSL é que a sigla se transformou no maior partido do campo da direita, capaz de abrigar candidatos com potencial para a Presidência. Há, para esses líderes partidários, a crença de que a aproximação com Witzel se justifica pelas semelhanças entre os posicionamentos dele e os do partido em relação às pautas de segurança pública e liberdade econômica. Ainda sobre 2022, houve conversas do partido com parlamentares filiados como a deputada federal Joice Hasselmann, o senador Major Olímpio e a deputada estadual Janaina Paschoal, todos com atuação política em São Paulo. Não é descartado também um possível convite de filiação ao ministro da Justiça, Sergio Moro.

INDECISÃO NO RIO

O desembarque do clã Bolsonaro do PSL tende a acentuar as divisões do partido no Rio, onde era comandado pelo senador Flávio Bolsonaro. Dono da maior bancada da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), com 12 deputados, o PSL deve ser controlado por parlamentares alinhados a Witzel. A ala bolsonarista, porém, não pretende apressar sua saída do partido e deseja manter as rédeas da bancada na Alerj, que passou oficialmente a fazer oposição a Witzel em setembro, por ordem de Flávio.

Por causa da incerteza sobre a fundação da Aliança pelo Brasil a tempo das eleições de 2020, deputados do PSL que aspiram à disputa por prefeituras evitam seguir o clã Bolsonaro e anunciar sua desfiliação. Há também preocupação com a perda de mandato, já que parlamentares só podem migrar de legenda caso comprovem perseguição política ou dentro da janela partidária, que só abre em 2022.