Título: Futuro do Mercosul em xeque
Autor: Marcos Venícius Barreto Magalhães*
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2005, Economia & Negócios / Além do Fato, p. A22

Muito se tem discutido sobre o tema. E, no momento, há dúvidas sobre a sua continuação. E essa dúvida é verdadeira se a analisarmos sob a visão econômica. Nenhum dos seus participantes pode querer um comércio unilateral, haja vista que o mercantilismo já foi superado, e o comércio mútuo traz benefícios a todos. Portanto, sob esse ângulo, teríamos a continuação do Mercado Comum do Sul. Para fortalecer o pensamento pró-Mercosul, diríamos que entre as nações participantes sobejam vantagens absolutas e/ou comparativas na corrente de seus comércios. Mesmo se levarmos em conta todos os fatores de produção, e não somente a mão-de-obra, poderíamos afirmar que a especialização entre estas nações fortaleceria as suas economias. O mesmo se pode dizer a respeito de suas demandas recíprocas, uma vez que estas é que determinariam os termos de comércio, e que no ano de 2004, por exemplo, a demanda pelos produtos brasileiros foi alta.

Saindo do pensamento econômico clássico, poderíamos afirmar que o Mercosul se manteria se analisarmos os perfis de suas demandas e rendas, já que são semelhantes; suas culturas latinas e rendas per capita não muito diversas, o comércio entre as suas nações tenderia a se confirmar.

Contudo, não temos muitas invenções que provoquem novos produtos com grandes demandas. E nesse caso, a corrente de comércio não se manteria, visto que as novas mercadorias seriam compradas dos centros mais adiantados.

Há que se discutir, também, nessa dúvida sobre a manutenção do Mercosul, a questão do câmbio, que talvez seja e tenha sido sempre, inclusive desde a ALAC, o ponto nevrálgico da questão.

No tempo do padrão ouro (em que o Brasil participou, a partir de 1846 até 1930, com entradas e saídas), o câmbio era mais estável, haja vista que um saldo negativo na balança comercial seria liquidado em ouro; como havia uma relação fixa da moeda nacional e o ouro, provocava menos oferta de moeda internamente, com uma justa recessão. Com o desemprego aumentando, e os salários caindo, tínhamos preços de mercadorias mais baixos, resultando em mais exportações e uma recuperação da balança comercial.

Embora com um ajuste perfeito, havia dificuldades em sua manutenção (resultante, por exemplo, da inflexibilidade salarial devido aos sindicatos e, nos países da América latina, a sua estrutura primário-exportadora etc.), o que destruiu esse sistema.

Com esse padrão, a integração dos países do Mercosul, sob o ponto de vista do câmbio estável, seria mais a contento, pois com a estabilidade da moeda, não assistiríamos os problemas cambiais de 1999, quando o Brasil desvalorizou o Real, levando a Argentina à crise que até agora assistimos.

O padrão dólar-ouro (que se inicia após a 2ª guerra Mundial) acabou em 1973, embora esta moeda ainda seja forte. Neste período, o Brasil, diante de dificuldades, desvalorizava a sua moeda em relação ao dólar, buscando ajustar o seu Balanço de Pagamentos.

As novas moedas fortes, como o euro e o iene, não asseguram nenhuma ancoragem estável ao Mercosul junto ao comércio mundial.

Como as nações do Mercosul têm baixa produtividade na maioria de seus fatores produtivos, temos necessidade de desvalorizar as nossas moedas para competir em preços com as nações desenvolvidas e compensar a balança comercial, o que desafoga dificuldades de pagamentos dos serviços e amortizações. O câmbio, portanto, não é estável.

Portanto, é tolice imaginar que o Mercosul tem que dar certo. O imperativo é apenas uma figura gramatical. As condicionantes econômicas devem ser observadas nas análises sobre o tema de forma clara.

Para manter-se a soberania das nações é necessário informações corretas.

Portanto, para que exista um Mercosul forte, é necessário vantagens comparativas e um câmbio estável.

**Doutorando em Administração Pública ¿ UCM/UNIFACS