O Globo, n. 31519, 23/11/2019. País, p. 12

Nova investigação do MP atinge Flávio Bolsonaro
Chico Otavio
Juliana Dal Piva



Em novo procedimento sob segredo de Justiça desde setembro, o Ministério Público do Rio investiga o uso de funcionários fantasmas no gabinete na Alerj do hoje senador Flávio Bolsonaro. Não há relação com a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão de Fabrício Queiroz apontada em relatório do antigo Coaf.

O Ministério Público do Rio abriu novo procedimento específico para investigar as denúncias de uso de funcionários fantasmas no antigo gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O procedimento tramita em segredo de Justiça e foi instaurado em setembro. Não há relação com o relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ), que apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente Jair Bolsonaro.

A nova investigação tem como foco as denúncias feitas pelo GLOBO sobre os parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente, que constaram como assessores de Flávio no período em que foi deputado estadual. A maioria deles, porém, sempre viveu em Resende, no Sul do estado. Além disso, Márcia Salgado de Oliveira, tia do ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Antonio Francisco de Oliveira, também tornou-se investigada. Os familiares de Ana Cristina não estavam citados no relatório do Coaf, mas e ramal vodo procedimento criminal que apura peculato e lavagem de dinheiro e tramita no Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc). A investigação está suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal que avalia o compartilhamento de dados entre órgãos como o Coaf e a Receita com o Ministério Público.

A portaria que instaurou o procedimento foi feita com foco na apuração sobre a falta de comprovação sobre o trabalho dos assessores. Já o novo caso é cível e investiga os ex-assessores e o senador por improbidade administrativa. Pessoas próximas à família dizem que nenhum deles foi chamado a depor, mas O GLOBO apurou que ofícios com solicitações dos registros de funcionais foram feitos à Alerj nos últimos dias. Procurado, o MP não se manifestou. Entre os alvos do procedimento estão casos como o de Andrea Siqueira Valle, conhecida por participar de concursos de fisiculturismo, mas que constou como assessora de Flávio de 2008 até o ano passado. Além disso, ela ficou outros dez anos lotada entre o gabinete de Jair Bolsonaro e de Carlos Bolsonaro. Na Alerj, chegou a ter um salário bruto de R$ 7.326,64 e receber um auxílio educação de R$ 1.193,36. Ela vivia em Guarapari (ES) até maio. Mas não é vista desde então. Procurado, Flávio disse, em nota, que "as pessoas que foram nomeadas, na época, eram qualificadas para as funções que exerciam. Trabalharam em diferentes áreas, mas sempre em prol do mandato, tanto que as votações enquanto deputado estadual foram crescentes". Segundo ele, a "nomeação ocorreu de forma transparente e de acordo com as regras da Alerj. A execução do trabalho delas também ocorreu de acordo comas normas ". Anota diz que os cargos comissionados são de duas naturezas: técnica e política, eque o funcionário pode atuara penas nabas e, "sem a necessidade de ir à Alerj ".