Título: Renan cresce na falta de um articulador
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, País, p. A3

De trajetória oscilante, pontuada por inflexões ora à direita, quando se consagrou como homem forte do governo Fernando Collor na Câmara, ora à esquerda, como aliado do ex-presidente Fernando Henrique e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), conserva o estilo que o caracterizou ao longo da vida pública. Habilidoso na arte de fazer política, Renan, no exercício da presidência do Senado, não se furta em antecipar posições, caso a situação exija, mas, cauteloso, fala como se manobrasse em solo ensaboado e lança mão da discrição quando se vê diante de temas polêmicos ou do espinhoso terreno nas cercanias do Planalto.

Certo ou errado, o fato é que o modo muito particular de agir lhe rende reverências como protagonista político, do governo à oposição. Num momento de escassez no campo da articulação, na lógica de mercado da oferta e procura, valoriza-se e é alçado à ribalta política.

Hoje, Renan Calheiros é uma espécie de contraponto ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).

- Para Severino Cavalcanti a presidência da Câmara é o ápice, para Renan Calheiros a presidência do Senado é apenas um degrau que lhe permite enxergar um degrau adiante - afirmou o deputado tucano Alberto Goldman (PSDB-SP).

Na avaliação da cientista política Lúcia Hipólito, a praxis política dos presidentes da Câmara e Senado se assemelhariam.

- A diferença é que Severino faz com estardalhaço o que Renan faz com discrição - diz Lúcia.

Ainda na avaliação da cientista política, também existiria uma predisposição de Renan Calheiros em marcar as diferenças com o colega da Câmara. Sobretudo depois das reações negativas na opinião pública ao estilo ''desabrido'' de Severino.

- Não podemos nunca esquecer a trajetória de Renan, sempre atento para saber de que lado está soprando o vento. Ao pontuar as diferenças com Severino, Renan espera auferir ganhos políticos - avalia Lúcia Hipólito.