Título: Severino luta para fazer valer suas posições
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, País, p. A3

De estilo oposto, Severino galgou degraus na política sempre transitando com desenvoltura entre o chamado baixo clero, ao tratar de questões paroquiais, como a defesa do atual recesso parlamentar de 90 dias e de mais verbas de gabinetes. Por isso, sempre teve votos para se eleger a algum cargo da mesa diretora - a exemplo da primeira secretaria, conhecida como a prefeitura da Casa. Na presidência da Câmara, às vezes até contraria a lógica política para fazer valer suas posições, mesmo que tenha de amargar uma derrota mais adiante.

Foi assim quando travou uma briga pessoal pelo aumento do salário dos parlamentares, durante as negociações para assegurar um ministério ao PP na reforma ministerial do governo, e agora, na discussão sobre o projeto que proíbe o nepotismo na administração pública. Dizendo-se perseguido pela imprensa, ensaia até um voluntarioso contra-ataque ao preparar um levantamento com a relação de parentes de jornalistas que trabalham na Casa.

O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), garante que as formações diferentes ajudam na diferenciação dos estilos. Mabel afirma que, independentemente do lado folclórico do presidente da Câmara, não há como negar que existe um clima diferente na Casa.

- Deputados que jamais imaginavam ver seus projetos discutidos em plenário estão empolgados, vêm até nós apresentar suas propostas - lembrou Mabel.

O deputado liberal afirmou que Severino vem se acostumando à liturgia do cargo, sinalizando que as declarações iniciais, bombásticas, e algumas ações intempestivas poderão se diluir ao longo do tempo. O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), considera um erro resumir a avaliação de Severino ao seu lado polêmico. Prefere comemorar a hiperexposição da imagem da Câmara desde que o novo presidente tomou posse.

- Eles nos levou ao Planalto para discutir reforma tributária. Trouxe os governadores e o ministro Palocci para cá, votou a Biossegurança, derrubou a MP 232. Fazer uma comparação com o mesmo período dos anos anteriores é covardia - avalia Maia.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), delineia um traço de distinção entre os presidentes das duas Casas do Legislativo. Para ele, ambos, cada um ao seu modo, adotam uma conduta independente em relação ao Executivo. Para Virgílio, Renan, por ter uma formação mais clássica, forjada no PCdoB, é mais pragmático, racional. Já Severino é mais emotivo, espontâneo.

- Os dois são bons jogadores. Renan surpreende menos, enquanto Severino é mais imprevisível. Mas que o governo não se iluda, não são meros aliados do Planalto - sentencia o tucano.