O Globo, n. 31468, 03/10/2019. País, p. 8

Aras assume a PGR, e Bolsonaro pede avisos antes de investigações

Daniel Gullino
Jailton de Carvalho


O presidente Jair Bolsonaro fez ontem um pedido aos integrantes do Ministério Público para que avisem o governo sobre eventuais práticas erradas a fim de que possam ser corrigidas antes de eventual punição. A solicitação ocorreu durante cerimônia pública de posse do novo procurador-geral da República, Augusto Aras.

—(É) o apelo que eu faço a todos os membros do Ministério Público. É importante investigar, é importante fazer cumprir a lei, mas muitas vezes, se nós estivermos em caminho não muito certo, e muitas vezes estamos fazendo aquilo bem intencionados, nos procure para que possamos corrigir. Corrigindo é muito melhor do que uma possível sanção lá na frente —disse.

Bolsonaro afirmou que “não foi fácil” escolher o novo procurador-geral, porque havia bons candidatos, e parabenizou o Ministério Público por sua “qualificação”.

Mais uma vez o presidente fez uma alusão ao jogo de xadrez. Disse que ele é rei e o procurador-geral, a rainha. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), seriam as torres, enquanto o do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli , representaria o cavalo. Na comparação, os ministros do governo são os peões.

O ato formal da posse de Aras aconteceu na semana passada, em um evento no Palácio do Planalto. Já a cerimônia de ontem, com mais convidados, ocorreu na sede da Procuradoria Geral da República (PGR).

Combate à corrupção

Durante a posse no cargo, Augusto Aras enalteceu investigadores da Lava-Jato e prometeu reforçar o combate à corrupção e defender as minorias e o meio ambiente. No mesmo discurso, Aras cobrou equilíbrio, responsabilidade e respeito aos valores judaico-cristãos que, na visão dele, permeiam a cultura brasileira. Ele disse que aceitou o cargo “possuído da fé inabalável dos valores cristãos que orientam essa nação e na certeza de não trair, não desertar e não me render no cumprimento dos sagrados deveres da nossa pátria e dos seus cidadãos”.

Ao lado de Bolsonaro, Aras falou sobre incrementar o combate à criminalidade violenta e fez menção ao ministro da Justiça, Sergio Moro, também presente ao evento. Primeiro Aras disse que nenhuma instituição está fora do alcance do Ministério Público. Por isso, a instituição deve atuar dentro dos estritos limites traçados pela Constituição de 1988.

—Não há poder no Estado que seja imune à ação do Ministério Público. Onipresente, exige dos membros seus equilíbrio, competência, compreensão e posicionamento firme onde quer que intervenha —disse.

Nos últimos meses tem crescido a onda de críticas a supostos excessos do MP na Operação Lava-Jato e em outras grandes investigações. Os ataques partem de setores não só da oposição, mas do próprio governo, descontente com algumas ações de promotores e procuradores. Depois do chamamento à responsabilidade, Aras estendeu a mão aos investigadores, com uma deferência especial justamente aos grupos da Lava-Jato.