O Globo, n. 31468, 03/10/2019. Economia, p. 15

Senadores mostram querer mais verbas e atenção

Geralda Doca
Naira Trindade


A derrota do governo na votação dos destaques da reforma da Previdência no Senado na terça-feira, que custará R$ 76,4 bilhões em dez anos aos cofres públicos, foi um duro recado ao Palácio do Planalto. Os parlamentares sinalizaram que, para aprovar temas de interesse do governo naquela Casa, querem mais atenção à distribuição de verbas para os estados e à liberação de recursos de emendas.

A aprovação do destaque que mantém a regra atual do abono salarial pegou de surpresa a equipe econômica e os líderes governistas. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDBPE), avalia que a Casa quis deixara sua identidade na reformada Previdência:

—O tem ado abono era muito caro aos senadores. E o Senado quis deixara sua identidade, a suam arcano texto. Não conseguimos manter porque não havia ambiente. Além do ciúme da Câmara, havia demandas não atendidas.

Onze votos a menos

A revolta de parte dos senadores ficou explícita durante a votação. Apesar de favorável às mudanças na previdência, o líder do MDB, Eduardo Braga, votou contra o governo no destaque.

— Nós garantimos ao Brasil que votaríamos a PEC da Previdência em primeiro turno e dissemos ao governo: “Queremos medidas do pacto federativo. Queremos medidas para que possamos voltar a crescer” — disse Braga, deixando claro que as demais votações estão ameaçadas.

— Não daremos o próximo passo se o governo não tomar certas decisões.

O líder do PSB, senador Otto Alencar (BA), também discursou contra o governo durante a sessão:

— Estamos dispostos a votar, mas é importante que o governo tome essa consciência de que os sete itens do pacto federativo não podem ser deixados de lado.

No mapeamento de Bezerra, cinco partidos que apoiam o governo votaram contra no destaque que tratava do abono, em uma demonstração da amplitude do problema que o governo terá de enfrentar. Foram quatro votos do Podemos, dois do MDB, dois do PSDB, dois do DEM e um do Pros. Na soma, foram 11 votos amenos, que ajudaram a oposição a manter a regra atual do abono.

Um dos motivos de insatisfação diz respeito ao acordo articulado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na semana passada, para acelerar o trâmite da chamada proposta de emenda à Constituição (PEC) da cessão onerosa, que resultou no desmembramento do texto, deixando para um segundo momento a divisão dos recursos com estados e municípios.

Senadores também se queixam de que não são atendidos pelos ministros e fazem críticas a Paulo Guedes. A interlocutores, o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), reclamou que os parlamentares chegam a esperar mais de três meses por uma agenda com Guedes e demais ministros.