Correio Braziliense, n. 21377, 25/09/2021. Política, p. 3 
 
Prevent suspeita de corrupção 

Tainá Andrade 
Fabio Grecchi 
 
 
Os depoimentos desta semana na CPI da Covid mostraram aos senadores que a defesa do tratamento precoce — no qual foram incluídos medicamentos sem qualquer eficácia no combate ao novo coronavírus — pode esconder um segundo grande esquema de corrupção, do qual faria parte a Prevent Senior, que fez experimentos com esses remédios sem informar aos pacientes. Esta jogada se somaria àquela que supostamente vinha sendo articulada pela Precisa por meio da venda da vacina Covaxin ao Ministério da Saúde. 

O depoimento do diretor-executivo da Prevent, Pedro Benedito Batista Jr., na última quarta-feira, chamou a atenção não apenas pela frieza com que admitiu que a Classificação Internacional de Doenças (CID) relativa à covid-19 era retirada do atestado de óbito de pacientes, mas, também, pela conexão com o chamado "gabinete paralelo da saúde" — do qual faziam parte alguns médicos que também atuavam nas unidades do plano de saúde. A Prevent aplicava em seus pacientes o chamado "kit covid" e, inclusive, circularam imagens nos quais saquinhos com cloroquina e outros fármacos eram remetidos para os associados. 

"Abre uma outra linha (de investigação), mesmo porque foram fraudadas (as notificações de óbitos). Abre também a situação de uma investigação de subnotificações, pois percebemos que muitas pessoas podem ter dado entrada em hospitais com covid. Isso pode não ter acontecido somente lá (na Prevent). Precisamos convocar algumas pessoas e confrontá-las em uma acareação", sugeriu a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), integrante da bancada feminina na CPI. 

Esquema 
O esquema do "kit covid" pode começar a ser mais bem desenhado com o depoimento de Bruna Morato, advogada da Prevent, na próxima terça-feira, e o do empresário bolsonarista Luciano Hang, no dia seguinte. No caso dela, a ideia dos senadores é confrontá-la com várias informações não apenas já colhidas pela comissão, mas deixadas por Pedro Batista Jr. — sobretudo no que se refere à autonomia dos médicos na prescrição dos medicamentos ineficazes, questão que foi usada pelo diretor-executivo do plano de saúde para tentar amenizar a culpa da empresa. 

Já em relação a Hang, os senadores querem saber as razões pelas quais foi tirado do atestado de óbito da mãe dele, Regina, o registro que atestava que ela se submetera ao "tratamento precoce". E por que, também, ele disse — em vídeo postado nas redes sociais — que ela poderia ter sido salva se tivesse utilizado tais medicamentos, quando, na realidade, os usou. O empresário, aliás, comparece à CPI com os sigilos fiscal, telefônico e telemático quebrados a pedido do presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). 

Para a próxima quinta-feira, o colegiado tentará retornar ao esquema da Precisa com o possível depoimento de Márcio Nunes, ex-diretor do Instituto Evandro Chagas no período da Operação Hospedeiro, e que tem relação direta com o lobista Marconny Albernaz Faria — que seria uma das molas-mestras da empresa no esquema de abertura das portas no Ministério da Saúde e no governo federal.