O Globo, n. 31518, 22/11/2019. Economia, p. 21

Mais vagas
Renata Vieira


O mercado de trabalho dá sinais de recuperação. O número de empregos com carteira assinada criados entre janeiro e outubro deste ano é o maior desde 2014. O impulso veio do setor de serviços e da retomada da construção civil, que geraram a maior parte das 841.589 mil vagas nos dez primeiros meses do ano, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem pelo Ministério da Economia.

Segundo analistas, o resultado pode contribuir para elevar as projeções de crescimento da economia brasileira no próximo ano, atualmente em 2,17%.

— O emprego formal é o indicador que melhor reflete a condição estrutural da economia, e só cresce quando o empresário reconhece que o cenário de médio prazo é mais benigno. O resultado reforça projeções mais otimistas para o PIB do ano que vem — afirma Mauro Rochlin, da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro.

A geração de empregos também ficou positiva em outubro, sétimo mês seguido de criação de postos de trabalho este ano. De acordo com o Caged, no mês passado, foram criadas 70.852 vagas, mais da metade delas no comércio.

CORTE DE 9.942 VAGAS NO RIO

Apesar do avanço, analistas chamam a atenção para fatores sazonais que afetam o emprego nos últimos meses do ano. Nessa época, as vagas temporárias criadas para a produção e vendas de fim de ano são fechadas e subtraem em média 300 mil vagas do saldo geral de empregos em dezembro. Ainda assim, a previsão é que o saldo supere o de 2018.

— Quase sempre temos um dezembro negativo, mas, ainda assim, o pior já passou. Devemos fechar o ano com 600 mil novos empregos, acima dos 530 mil gerados no ano passado. Para 2020, é possível falar em mais de um milhão de novos empregos —prevê Rodolfo Torelly, especialista em mercado de trabalho.

O bom desempenho da construção civil, um dos setores mais intensivos em mão de obra, é uma das surpresas

do ano, segundo especialistas. Depois de três anos em crise, o setor foi o que mais avançou na geração de empregos entre janeiro e outubro, com aumento de 6,3% nos postos de trabalho.

— A melhora na construção civil tem relação direta com o nível de confiança no país. Coma aprovação da Previdência e a diminuição do risco Brasil, o setor ganhou fôlego —diz Torelly.

As micro e pequenas empresas, que empregam até 19 pessoas, foram as que mais geraram empregos em outubro. Enquanto essa categoria abriu 76.231 novas vagas no último mês, as empresas com mais de 500 funcionários fecharam acima de 18 mil vagas.

Para o professor da UFRJ João Sab o ia, depois de passar por ajustes pesados em seus quadros de pessoal, as grandes empresas têm preferido esperar antes de voltara contratar.

— As micro e pequenas empresas podem ser muito dinâmicas, e em geral têm rotatividade mais alta. Enquanto isso, as grandes empresas fizeram ajustes, e não estão querendo contratar na mesma velocidade.

Houve criação de vagas nas modalidades de trabalho criadas pela reforma trabalhista de 2017. O trabalho intermitente — aquele realizado em alguns dias da semana, ou ainda por algumas horas — e o trabalho parcial — que vai até 26 ou 30 horas semanais— têm representado entre 10% e 15% do total de empregos gerados todo mês.

Entre os 27 estados da federação, 23 geraram empregos em outubro. Na contramão, o Estado do Rio teve o pior saldo do país entre contratações e demissões no mês, com 9.942 vagas fechadas. No acumulado do ano, o saldo foi positivo em apenas 9.444 vagas, número também aquém do que se verificou nos outros estados da Região Sudeste.

Rachlin, da FGV, avalia que o estado vive um “esvaziamento econômico” por causa de uma série de fatores:

— O estado foi muito afetado pela crise da construção civil depois da Copa do Mundo e das Olimpíadas. O setor de petróleo e gás, forte no estado, foi muito afetado pela crise da Petrobras e pela operação LavaJato, e a indústria automobilística concentrada no Sul Fluminense também vem sofrendo com a crise econômica.

Salário mínimo de 2020 deve ficar em R$ 1.030

> O salário mínimo em 2020 deve ficar menor que as projeções inicialmente divulgadas pelo governo. A previsão é que o piso nacional seja de R$ 1.030 no próximo ano.

> O Orçamento de 2020 encaminhado ao Congresso previa que o salário ficasse em R$ 1.039.

> A diferença é explicada por causa da previsão menor de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A projeção oficial do governo caiu de 4,02% para 3,26%, em documento divulgado há duas semanas. Com isso, o reajuste do salário mínimo será inferior ao estimado inicialmente.

> Atualmente, o piso nacional é de R$ 998. Mesmo assim, será a primeira vez que o salário mínimo, que serve de referência para mais de 45 milhões de pessoas, ficará acima da marca de R$ 1 mil.

> Entre 2011 e 2019, vigoraram reajustes com base na inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores.

> Para 2020, o governo decidiu aplicar apenas a correção da inflação para o mínimo.

> O salário mínimo menor vai ajudar as contas do governo em 2020. Cada R$ 1 de salário representa um gasto extra de R$ 300 milhões.

> O espaço fiscal vai ser usado para ajudar a aumentar gastos com investimentos no próximo ano. (Manoel Ventura)