Título: A história contada pelas redes de TV
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, Especial, p. A7

Quando a saúde do papa começando a declinar, a executiva da CBS News Marcy McGinnis viajou para Roma com a missão de fechar um acordo de 10 anos de direitos exclusivos de transmissão do alto de um hotel com vista para a basílica de São Pedro, quando o João Paulo II morresse. Isso foi há nove anos.

- Achei que estava sendo esperta ao fechar um contrato de dez anos. Mas ele deveria ter sido de 15 - disse Marcy.

Ou até mais, considerando que a sucessão papal é uma grande história que as redes de televisão vão querer cobrir exaustivamente. A morte de João Paulo II é um acontecimento de interesse internacional e, por isso, ficará por muitas horas seguidas no ar. E por muito tempo. Vale lembrar que esta será a primeira sucessão papal dos tempos de noticiários em 24 horas.

- De certo modo, João Paulo II representou como é a experiência de vida de um ser humano nos dias de hoje, de uma forma que nenhuma outra personalidade foi capaz desde Winston Churchill - considerou George Weigel, um dos biógrafos do papa. - Quando uma personalidade dessa magnitude entra para a história, devemos aproveitar para refletir sobre o que ela significa'', completou.

Mas as redes de TV podem ficar tão concentradas em mostrar a história de Karol Wojtyla que correm o risco de esquecer o efeito que sua morte tem no coração dos fiéis.

- Existem milhares de pessoas conectadas emocionalmente ao papa. Precisamos considerar este ponto - lembrou o presidente da ABC News, David Westin.

A rede ABC News foi a única a manter um repórter exclusivo para assuntos religiosos, que poderia ajudar a formular uma cobertura diferenciada. Entretanto a função, exercida por Peggy Wehmeyer, foi extinta há alguns anos.

- Acho que posso ter cometido um grande erro - assumiu Jeffery Sheler, editor do U.S. News & World Report e presidente da Associação dos Jornalistas Religiosos.

Para as redes americanas, a cobertura da morte do papa deve ter várias horas de transmissão, reportagens especiais e canais a cabo mostrando cada detalhe.

Organizar este trabalho vai exigir uma boa logística: a redes vão precisar alugar locais que forneçam uma boa vista da basílica de São Pedro, infraestrutura para as dezenas de pessoas envolvidas no trabalho, além de quartos de hotel. Isso tudo mantendo a atenção para não perder nenhum sinal que indique aquele que será o novo líder católico, o que significaria uma falha sem precedentes.