Título: Multidões em celebrações no Rio
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, Especial, p. A7

Nas duas passagens pelo Rio de Janeiro, em 1980 e 1997, João Paulo II foi aclamado por multidões e surpreendeu o mundo ao visitar a Favela do Vidigal, abençoada pelo pontífice. Desde que foi anunciada a primeira visita ao país, o papa manifestou o interesse em conhecer uma favela. A disposição e a ousadia levaram o cardeal dom Eugenio Salles a escolher, com membros da Pastoral das Favelas, a comunidade incrustada nas encostas da Zona Sul.

A visita, que deu à favela projeção mundial, serviu também para afastar o risco de despejo dos moradores. Dom Eugenio estava preocupado com as propostas que surgiam, por parte de técnicos da prefeitura, de remoção da favela, sob a alegação de que havia risco de deslizamentos. Paralelamente aos planos de desocupação, empresas desenvolviam projetos de construção de mansões de luxo e prédios na região. Com o apoio do governador Faria Lima, João Paulo II abençoou o Vidigal e, comovido com as condições de vida no local, doou um anel de ouro para ser vendido em benefício dos moradores.

Na época, o núncio apostólico dom Carmine Rocco ressaltou a importância da visita lembrando que ''queriam expulsar todos os favelados dali, cerca de 15 ou 16 mil pessoas, mas o bispo local interveio''.

Em 1997, dois milhões de pessoas se reuniram no Aterro do Flamengo para uma missa campal celebrada por João Paulo II. Além do público, a celebração registrou outros recordes. No culto de três horas e 15 minutos, o papa foi acompanhado por 500 bispos e 17 cardeais concelebrantes. Um coral de mil vozes e uma orquestra sinfônica com 50 integrantes emocionaram a multidão, que alcançava quase um quilômetro de extensão, indo da Cinelândia até a altura do Hotel Glória. A celebração superou em tamanho a primeira missa campal, realizada no Maracanã, em 1980, para 160 mil pessoas.

Mais uma vez, as palavras em defesa dos excluídos, a preocupação social e a coragem marcaram a passagem do pontífice pelo Rio.

Em seu discurso de chegada, João Paulo II fez um pronunciamento pedindo mais justiça. Dias depois, em encontro no Palácio Laranjeiras, o presidente Fernando Henrique Cardoso, em resposta às críticas recebidas, entrega a João Paulo II uma cópia do Programa Nacional de Direitos Humanos.

Os problemas do Rio estiveram no caminho do papa. O trajeto do Aeroporto até o Sumaré teve que ser alterado para evitar áreas dominadas pelo tráfico de drogas, onde a comitiva ficaria exposta ao risco de balas perdidas. Mesmo assim, João Paulo II fez questão de ir às áreas carentes do Rio e chegou a participar da saída de presos indultados no complexo da Frei Caneca.