O Globo, n. 31517, 21/11/2019. País, p. 6

Porteiro diz que errou ao citar casa de Bolsonaro
Lauro Jardim


Em depoimento feito anteontem à Polícia Federal, o porteiro do condomínio Vivendas da Barra mudou a versão dada por ele nas duas oportunidades em que foi ouvido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, no inquérito que apura as mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

À Polícia Civil, nos dias 7 e 9 de outubro, o funcionário relatou que, no dia do crime —14 de março do ano passado —, um dos suspeitos das mortes, o ex-PM Élcio Queiroz, teria entrado no condomínio com destino à casa de número 58, que pertence ao presidente Jair Bolsonaro. A testemunha também relatou ter interfonado para a residência e ouvido uma autorização do “seu Jair” para que Queiroz tivesse acesso ao Vivendas da Barra.

Já no depoimento prestado anteontem à PF, o porteiro afirmou ter “anotado errado” na planilha do condomínio o número da casa para a qual iria Élcio Queiroz. Em vez de escrever “casa 66” —que pertence ao PM reformado Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson —, registrou “casa 58” — residência de Bolsonaro. O funcionário disse ter se sentido “pressionado” pelo erro cometido ao registrar os dados na planilha e que, por isso, resolveu contar à Polícia Civil a história sobre o “seu Jair”, para não admitir o equívoco.

A informação de que o porteiro falou anteontem à PF foi antecipada pelo colunista Ancelmo Gois.

Policiais que colheram o depoimento se surpreenderam com a simplicidade demonstrada pelo funcionário durante a conversa. Eles buscam agora apurar se ele teria sido alvo de pressões antes ou depois das duas vezes em que falou à Polícia Civil e quem poderia ter feito essas pressões — para dar o primeiro depoimento ou para alterá-lo agora.

O Ministério Público do Rio já havia dito que a perícia dos áudios das conversas registradas entre aportaria e as casas indica que Élcio foi ao condomínio para visitara casa 66 e teve sua entrada autorizada pelo próprio Ronnie Lessa. Élcio e Ronnie atualmente estão presos.

O depoimento de anteontem foi tomado pela PF a pedido do Ministério Público Federal. Por determinação do ministro da Justiça Sergio Moro, a PF investiga se o porteiro envolveu indevidamente o nome de Bolsonaro no caso.