Título: ''Exportações brasileiras vão continuar a crescer''
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, Economia & Negócios, p. A19

Os resultados surpreendentes da balança comercial no primeiro trimestre sinalizam que as exportações seguirão em contínua expansão apesar de o câmbio não se mostrar tão competitivo quanto em 2004. As exportações brasileiras dos primeiros três meses do ano somaram US$ 24,451 bilhões, um recorde para o período e 25,7% acima da performance obtida em 2004. Descontadas as importações de US$ 16,132 bilhões, o país obteve nos primeiros três meses do ano superávit comercial de US$ 8,319 bilhões, 35,5% acima do saldo obtido entre janeiro e março de 2004. Entre as análises que podem ser feitas a partir desses dados, uma se destaca: os resultados do segundo trimestre tendem a ser ainda mais elevados.

Em termos gerais avalia-se que a conjugação simultânea de quatro fatores manterá as vendas destinadas ao exterior em alta: início dos embarques da safra agrícola, maiores negócios envolvendo minério de ferro com preços cerca de 70% acima do ano passado, ampliação das transações com produtos manufaturados e ainda a valorização dos preços de algumas commodities agrícolas e minerais. Por isso, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, já fala em exportações mensais de US$ 10 bilhões.

Jornal do Brasil ¿ O governo elevou de US$ 108 bilhões para US$ 112 bilhões a meta de exportações de 2005. Quais foram os fatores determinantes para essa revisão?

Ivan Ramalho ¿ A análise considera o cenário externo, os países que são grandes compradores do Brasil (Estados Unidos, Argentina, China e União Européia) e as informações setoriais. As projeções de exportação dos setores são seguras e, nos dois últimos anos, a maioria dessas empresas alcançou performance superior às previsões feitas. Há também informações sobre as importações e a compra de insumos e componentes via drawback (regime especial para importações vinculadas à produção de bens destinados ao exterior). Em março, as exportações superaram nossas previsões e recomendaram uma nova previsão, um aumento de US$ 4 bilhões na meta de US$ 108 bilhões.

¿ Há outros fatores que pesaram?

¿ Há um número razoável de produtos com valorização de preço (café, açúcar, carne, minério e petróleo).

¿ Quais foram as mudanças no cenário externo que favorecem as exportações?

¿ Divulgamos a previsão de US$ 108 bilhões no início do ano. Simultaneamente foram divulgadas outras projeções e a nossa foi a mais otimista porque os analistas consideraram a perspectiva de queda de preço de muitos produtos brasileiros, e isso influenciaria o resultado final. O que ocorreu é que esses preços se recuperaram e houve também aumento do preço do minério de ferro.

¿ Qual é a tendência para as vendas dos produtos manufaturados brasileiros no exterior?

¿ As exportações de produtos manufaturados superaram nossas expectativas ao longo do primeiro trimestre e isso é importante porque é o grupo com mais de 50% de participação no total da pauta.

¿ Quais são os mercados que compram os produtos manufaturados fabricados no Brasil?

¿ Os Estados Unidos sempre foram os maiores compradores e a Argentina, após a recuperação da sua economia, voltou a ser o segundo maior comprador, com ênfase em manufaturados. Acredito que o manufaturado brasileiro está competitivo em preço e qualidade e continua apresentando crescimento satisfatório.

¿ Como é a concorrência dos manufaturados brasileiros no exterior?

¿ O Brasil concorre com um enorme número de países nos principais segmentos dos manufaturados: temos indústria automotiva, de aviões, de máquinas e equipamentos, auto-peças, motores, celulares (que neste ano voltaram a apresentar boa taxa de expansão). Mas a presença mais marcante continua sendo nos EUA e na Argentina. Em outros mercados como Europa, Ásia e outras regiões percebemos o ingresso grande dos produtos industrializados brasileiros.

¿ A demanda externa surpreende?

¿ Não diria que a demanda externa tem nos surpreendido. Mas o resultado das exportações nestes primeiros três meses nos surpreenderam.

¿ Então pode-se esperar para abril exportações de US$ 10 bilhões?

¿ Essa previsão não podemos fazer, mas podemos dizer que nos dois ou três meses seguintes as exportações vão continuar a crescer e podem superar março, que fechou em US$ 9,251 bilhões.

¿ Foi divulgado recentemente o ranking dos municípios exportadores. Quais conclusões podem ser tiradas do relatório?

¿ O objetivo é que não somente os estados, mas também os municípios possam utilizar essas informações para fomentar as exportações. Isso ajuda prefeituras a se engajarem nos programas estaduais de estímulo aos negócios no mercado internacional.

Como os municípios podem ampliar sua participação nos negócios feitos no exterior?

¿ Há muito espaço para o ingresso de novos produtos na balança comercial brasileira. Há regiões menores ou mais carentes que ainda não estão voltadas para a exportação. E há casos como Amapá e Acre, que começaram a exportar novos produtos como calçados (o Brasil já exporta calçados, mas esses estados ainda não haviam vendido esse tipo de produto). É importante também que os municípios saibam que a sua região tem uma posição de destaque, ou que podem ampliar ou iniciar as exportações.

¿ Já se percebe uma descentralização do esforço de exportação?

¿ Percebemos que mesmo nos estados que exportam pouco e nos quais estamos centrando esforços não é só a capital que exporta. Há operações fortes também no interior.